Romeu e Julieta

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“Romeu e Julieta”: Uma adaptação de Shakespeare no brilho de Hollywood

A versão de Romeu e Julieta, dirigida por George Cukor em 1936, é uma das primeiras tentativas de Hollywood de transformar uma obra literária clássica em uma produção cinematográfica grandiosa. O filme foi um dos grandes projetos da MGM, idealizado pelo chefe de produção Irving Thalberg, que viu na adaptação de Shakespeare uma oportunidade de trazer prestígio ao estúdio. Com a presença de Leslie Howard como Romeu e Norma Shearer como Julieta, o filme é uma mistura de fidelidade ao texto original e do glamour característico dos anos dourados do cinema americano.

A narrativa é, claro, conhecida por todos: o trágico romance de dois jovens amantes que precisam lutar contra a rivalidade de suas famílias. Porém, o que distingue esta versão de Romeu e Julieta é a tentativa de Cukor de equilibrar o peso da obra original com uma estética visual luxuosa, que inclui cenários grandiosos e figurinos detalhados. A produção não economiza nos elementos visuais, criando um espetáculo que evoca a atmosfera medieval da Itália renascentista, ainda que sem conseguir reproduzir completamente a energia mediterrânea que a história demanda.

Embora a adaptação seja visualmente impressionante, com cenas de baile e sequências de ação bem coreografadas, o filme sofre em termos de autenticidade emocional. Tanto Howard quanto Shearer, embora experientes, enfrentam dificuldades para convencer como os jovens apaixonados Romeu e Julieta, devido à diferença de idade e à falta de química entre eles. A escolha de Cukor de priorizar a clareza do texto shakespeariano resultou em uma interpretação mais artificial e controlada, sem a intensidade emocional necessária para transmitir o amor proibido que define a história.

O filme, no entanto, apresenta momentos de brilho, especialmente com John Barrymore no papel de Mercutio. Sua atuação rouba a cena com um estilo eloquente e grandioso, destacando-se como um dos personagens mais marcantes da produção. A cena do baile, coreografada por Agnes DeMille, também é um ponto alto, mostrando a atenção de Cukor aos detalhes e a sua capacidade de criar momentos de beleza visual em meio a uma narrativa que, por vezes, parece fria e calculada.

A produção foi marcada por desafios nos bastidores, incluindo conflitos entre o diretor de arte, os designers de figurino e a própria direção do estúdio, resultando em uma estética que por vezes parece inconsistente. Enquanto algumas cenas trazem a sofisticação e o glamour que se espera de uma produção da MGM, outras carecem da autenticidade que uma história ambientada na Itália deveria possuir. Cukor, mais tarde, admitiria que a falta de uma atmosfera mais mediterrânea foi uma de suas maiores frustrações, algo que ele tentaria corrigir em projetos futuros.

Apesar desses desafios, Romeu e Julieta conta com momentos verdadeiramente impactantes. A decisão de Cukor de filmar a cena do suicídio em uma única tomada contínua traz uma tensão e um peso emocional que se destacam no meio da opulência visual. As sequências de despedida entre os amantes, embora contenham certa rigidez, possuem uma melancolia que reflete a inevitabilidade do destino trágico dos personagens.

Infelizmente, o investimento pesado na produção não se traduziu em sucesso financeiro, resultando em um dos poucos fracassos comerciais da carreira de Cukor nos anos 1930. Embora a crítica literária tenha recebido bem a tentativa de adaptar Shakespeare para o cinema, o público em geral não se encantou tanto com o tom solene da obra. Mesmo assim, o filme tem seu mérito por ser uma das primeiras adaptações de Shakespeare que tenta manter a essência do texto, respeitando a poesia do bardo inglês, mesmo que a um custo visual elevado.

No final, Romeu e Julieta de George Cukor é uma curiosa mistura de tradição e inovação. Apesar de seus defeitos, é um marco na história do cinema por seu esforço em trazer uma obra tão clássica para o grande público. O filme pode não ter alcançado o sucesso que a MGM esperava, mas permanece como uma lembrança de uma época em que o cinema buscava um equilíbrio entre o entretenimento e a arte, tentando capturar o espírito das obras literárias mais amadas de forma visualmente arrebatadora, ainda que nem sempre emocionante.

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