Existem muitos debates no mundo nerd sobre a dificuldade recorrente em conseguir retratar o Superman nas telas do cinema como ele merece. E ainda, que ressaltam o fato dele não ser um personagem que se relaciona com as pessoas. Não só esse pensamento, assim como também a urgência de uma nova versão “definitiva” do super-herói nas telas, é o que se espera da Warner desde a encarnação de Christopher Reeve nos filmes do Richard Donner. Claro, não podemos esquecer Henry Cavill de forma nenhuma, que possui uma presença inegável vestindo o uniforme de capa vermelha, mas a sua versão infelizmente sofreu com as escolhas narrativas do cineasta Zack Snyder que durou desde O Homem de Aço até sua Liga da Justiça. Com uma versão dark do personagem, era como se Kal-El não tivesse espaço para brilhar ao sol como a gente gostaria de ver e se entregasse num desvio de caminho que ainda não se encaixava na rota de esperança que o personagem tanto representa. Talvez essa confusão toda aconteça porque até então ninguém havia olhado para o Superman na simplicidade.
A DC tem um defeito de guardar suas melhores histórias para os filmes animados e esquece de levar a mesma qualidade para as telas do cinema. Enquanto isso, as séries de tv também ganham cada vez mais espaço narrativo para mostrar a cara da DC sem medo e sem desculpas, como acontece com Titans e já aconteceu com Arrow e Flash nas suas primeiras temporadas. Como o medo de não entregar um espetáculo ainda assombra o estúdio desde o morno Superman O Retorno, a gente pode matar a sede por um Superman digno de aplausos agora no HBO Max. Isso porque a versão de Clark Kent introduzida nas séries do Arrowverso foi um tiro certeiro. E não é à toa que logo foi aprovada uma série solo do herói.
Agora com uma temporada dedicada ao kryptoniano e seu par romântico, o Superman que a gente merecia chegou apostando logo de cara no otimismo e nas homenagens aos quadrinhos, com uma sequência de arrepiar qualquer dcnauta. Mas nem só das aventuras do herói a série conseguiria se sustentar. E é nesse ponto que Lois entra em cena. A presença da protagonista também é outro acerto da série, que regula o tom da personagem para uma parceira que não é colocada na ação para movimentar a história, e além de dividir o mesmo espaço de importância na produção, tem sua própria jornada a parte do Superman, mostrando que ela é a heroína das coisas mundanas, burocráticas e invisíveis ao macro.
Na trama, Clark e Lois, interpretados por Tyler Hoechlin e Elizabeth Tulloch, são pais de dois meninos gêmeos e decidem se mudar de Metrópolis para Smallville após o falecimento de Martha Kent. Essa escolha exige muitas mudanças em família e é justamente o que gera as problemáticas que percorrem os episódios. Pode até soar estranha essa decisão de dar uma família para o Superman, mas o roteiro encontra a forma correta de fazer com que isso funcione e foi uma ótima saída para trabalhar o lado humano do herói. Lado esse que aproveita ao máximo a interpretação de Hoechlin com nuances que vão da ingenuidade e inocência, mas também trabalha as cenas de luta e ação com a postura que o herói exige. Esse equilíbrio também acontece quando a série revela parte da mitologia kryptoniana em Smallville. Um ambiente que foge da magnitude das obrigações mundiais do Superman e recria o sentimento de comunidade da pequena cidade, apresentando a escola dos meninos e seus dramas adolescentes, a família de Lana Lang, além de outros vizinhos que se unem para festividades, causas sociais e principalmente fofoca.
Já a ameaça da temporada ficou por conta de Morgan Edge (Adam Rayner), um magnata da comunicação que controla o Planeta Diário e esconde muitos outros segredos, que Lois tenta desvendar. Seu desenvolvimento é muito coerente durante a temporada, mas tem uma alteração que é diferente da sua origem nos quadrinhos e pode desagradar, mas passa batido porque ele recebe um bom tratamento do roteiro, que soube trabalhar o vilão desde o início.
Superman & Lois consegue reconquistar esse lugar de pertencimento do Superman no nosso imaginário encaixando todas as peças de sua origem com leveza, falando muito sobre como ele se tornou um herói através do acolhimento e amor de seus pais na Terra e hoje tenta repassar esses valores para para sua própria família. É uma produção que felizmente se arrisca na contramão do desgaste das adaptações de super-heróis e que merece ser vista, sendo fã ou não da DC.