Tess – Uma Lição de Vida é uma adaptação delicada e visualmente deslumbrante do clássico romance de Thomas Hardy, dirigida por Roman Polanski. Ambientada na Inglaterra do século XIX, a trama acompanha a jornada sofrida de Tess, uma jovem camponesa que, movida pela esperança de uma vida melhor, é enviada por seus pais para trabalhar na mansão dos D’Urberville. É ali que seu destino é selado, após ser seduzida pelo manipulador Alec e engravidar, dando início a uma sucessão de desventuras que revelam a crueldade das convenções sociais e a vulnerabilidade feminina na época.
A história, embora ancorada em um romance escrito em 1891, ganha contornos modernos nas mãos de Polanski, que transforma a tragédia de Tess em um retrato pungente de resistência e fragilidade. A personagem-título, vivida por Nastassja Kinski, exala inocência e sensualidade, tornando impossível não se comover com seu calvário. Sua beleza, filmada de maneira quase etérea, contrasta com a dureza do mundo ao redor, acentuando a sensação de que a vida, para Tess, é uma batalha injusta contra forças maiores.

O roteiro, adaptado pelo próprio Polanski ao lado de Gérard Brach e John Brownjohn, respeita a essência do livro, ainda que suavize certos aspectos, especialmente na caracterização de Alec d’Urberville. Essa escolha pode frustrar puristas, mas confere ao filme uma abordagem menos caricata e mais ambígua, privilegiando a perspectiva emocional de Tess. Já Angel Clare, interpretado por Peter Firth, surge como um contraponto: um homem que, embora mais íntegro que Alec, também é prisioneiro dos preconceitos de sua época.
Um dos elementos mais notáveis de Tess – Uma Lição de Vida é sua direção de arte impecável. Polanski recria a Inglaterra rural com um realismo poético, onde cada campo, estrada e casarão contribui para a atmosfera melancólica da narrativa. A fotografia, assinada por Geoffrey Unsworth e Ghislain Cloquet, é um espetáculo à parte, explorando luz natural e paisagens bucólicas para compor quadros que parecem pinturas. Não por acaso, o filme venceu o Oscar nessa categoria, além de ser laureado em figurino e direção de arte, consagrando sua excelência estética.
A trilha sonora atua com discrição, realçando momentos de introspecção e desespero sem jamais roubar a cena. Polanski opta por um ritmo cadenciado, que pode soar lento para alguns espectadores, mas que reflete a inevitabilidade trágica do percurso de Tess. Cada silêncio, cada olhar prolongado, reforça a sensação de que estamos diante de um destino selado desde o início, o que dá à narrativa um tom quase fatalista.

A atuação de Kinski merece destaque não apenas pelo magnetismo visual, mas pela capacidade de transmitir uma gama complexa de emoções, da pureza inicial à amargura crescente. Seu trabalho, somado ao requinte técnico da produção, garante que o filme permaneça como uma das adaptações mais memoráveis de Hardy, mesmo para quem contesta suas pequenas liberdades criativas.
No fim, Tess – Uma Lição de Vida é um drama que une beleza e intensidade emocional para revisitar um clássico literário sob o olhar sensível e rigoroso de Polanski. É uma obra que denuncia as injustiças de uma sociedade patriarcal ao mesmo tempo em que celebra a resistência de uma mulher diante do inexorável. Trágico, belo e profundamente humano, é um filme que continua a ecoar muito além da tela.




