Aqui vão algumas informações rápidas sobre o filme:
- Dirigido pelo veterano Denys Arcand, ganhador do Oscar por As Invasões Bárbaras.
- Possui humor ácido e com diálogos bem “afiados”.
- O roteiro faz uma crítica à cultura do cancelamento, algo muito comum em nossos dias.
- Tem personagens marcantes e uma história otimista.
- É todo falado em francês de Quebec.
Qual a história de “Testamento”?
Jean-Michel, um solteirão de 73 anos, reside em uma casa de repouso administrada por Suzanne. Seu mundo é abalado pela chegada repentina de manifestantes que fazem campanha para a remoção de uma antiga obra que foi considerada um insulto às Primeiras Nações. Enquanto Jean-Michel perde progressivamente a fé em um mundo dominado pelo politicamente correto, ele descobre um amor inesperado por Suzanne.
Denys Arcand é Jean-Michel?
20 anos separam o grande sucesso internacional de Arcand, As Invasões Bárbaras, do seu filme mais recente, Testamento. De lá pra cá o mundo mudou bastante, e vimos o surgimento de uma cultura do politicamente correto ganhar força, que aqui apelidamos de cultura do cancelamento. Gerações mais antigas costumam estranhar essa virada de pensamento, porque expõe visões de mundo muito enraizadas e que hoje são consideradas bem controversas.
Arcand tem lá seus 82 anos, e faz parte de um mundo que luta para continuar existindo. E essa resistência pode ser vista no personagem Jean-Michel. A dificuldade em se adequar a uma nova realidade deixa Jean-Michel mal humorado e descontente com a vida. Um retrato de muitos que, como ele, também devem estar enfrentando esse mesmo tipo de problema.
Agora resta saber se Jean-Michel é a voz de Arcand, ou se o personagem é sua visão crítica a respeito de um mundo que a cada dia se torna mais e mais diferente.
“Testamento” é quase uma senhora dos absurdos canadense
Devo alertar que, quando falo canadense, eu estou me baseando em uma visão brasileira que tende a acreditar que a mistura de culturas é algo fácil, e comum para todos. Mas não é. Os próprios canadenses costumam reforçar a diferença dos falantes de francês dos que falam inglês. Então, esse meu “canadense” se refere aqui à parte francófona (que geralmente costuma nos entregar mais filmes interessantes).
Por aqui, no Brasil, muitos estão familiarizados com a personagem Senhora dos Absurdos, criada pelo saudoso Paulo Gustavo. Essa personagem é conhecida por seus discursos cheios de preconceitos, um retrato que muitos gostam de associar à direita política do país. Em Testamento, o personagem Jean-Michel tem esse mesmo papel conservador. Inclusive, a crítica especializada do Canadá teceu opiniões bem duras por conta disso. Criticaram Arcand em dar voz a uma direita que está crescendo e tomando o controle do cenário político do país.
Entretanto, o filme se diz uma comédia, e é para esse lado que estou analisando o filme. Ao meu ver Testamento é uma sátira, que mesmo incomodando a muitos, conseguiu me divertir.
Vale a pena ver “Testamento” nos cinemas?
Sempre é bom conhecer culturas diferentes, ainda mais de um país que não é tão presente na cultura pop, como o Canadá. Eu recomendo irem assistir Testamento como forma de enriquecer a nossa visão de mundo, sobre o que existe lá fora, longe daqui. Sem falar que o filme retrata muito bem esse momento que o mundo está vivendo, essa virada de pensamento para o politicamente correto. E claro, Testamento também é bastante divertido. O filme vale o ingresso! Podem ir sem medo!