Uma Mulher Descasada

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"Uma Mulher Descasada": O recomeço de Erica

Uma Mulher Descasada é um retrato íntimo e afetuoso de uma mulher diante do fim abrupto de seu casamento. Erica Benton, vivida com intensidade por Jill Clayburgh, é uma esposa e mãe de classe média em Manhattan, cuja rotina confortável desmorona quando o marido anuncia, quase casualmente, que a está deixando por outra mulher. Em vez de focar no drama do rompimento, o filme se debruça sobre o que vem depois: o lento, às vezes doloroso, mas libertador processo de reconstrução.

Paul Mazursky dirige Uma Mulher Descasada com sensibilidade e humor, sem cair em sentimentalismos fáceis. Seu olhar é generoso com a protagonista e respeitoso com os dilemas femininos, que começam a ganhar mais espaço na tela durante os anos 1970. O roteiro propõe algo ousado para a época: acompanhar uma mulher tentando se entender sozinha, sem depender de um homem para dar sentido à sua vida.

Jill Clayburgh entrega uma atuação memorável, feita de pequenos gestos, silêncios significativos e explosões emocionais críveis. Erica é humana, contraditória, insegura, mas também forte e irônica. Sua voz rouca e sua expressão inquieta capturam bem a mulher em transição — não mais uma esposa submissa, ainda não uma mulher plenamente emancipada. Ela está em processo, e o filme a acompanha com generosidade.

Há momentos de dor, claro, mas também de riso e camaradagem, especialmente nas cenas entre Erica e suas amigas. Sentadas em cafés e restaurantes nova-iorquinos, elas falam abertamente sobre sexo, desejos, inseguranças — numa liberdade de discurso que ainda era rara em Hollywood. Essas conversas, que mais tarde seriam herdeiras espirituais da série Sex and the City, são refrescantes, engraçadas e essenciais para o arco emocional do filme.

Mesmo quando Erica se envolve com um novo homem, o artista Saul (Alan Bates), Uma Mulher Descasada evita a armadilha de sugerir que um novo amor é a única salvação. O romance é terno e bem-vindo, mas Erica não volta a ser a mulher de antes — ela já descobriu algo sobre si que não permitirá ser apagado por mais ninguém.

Mais do que um drama sobre divórcio, o filme é uma celebração da autonomia feminina. Ele não ignora as dores desse caminho, mas também não se rende ao vitimismo. Erica cai, levanta, chora, grita, ri, transa, experimenta. E ao final, não é o destino amoroso dela que importa, mas sua decisão de seguir adiante sozinha — inteira, apesar de tudo.

Uma Mulher Descasada foi indicado ao Oscar de Melhor Filme em 1979 e marcou o ponto alto da carreira de Clayburgh. Quase cinco décadas depois, sua honestidade e frescor continuam a ressoar. Porque o recomeço de Erica, tão pessoal, também é profundamente coletivo — e ainda hoje, necessário.

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