François Ozon é o tipo de diretor que não perde tempo. Com uma produção que data desde a década de 1990, ele realiza pelo menos um filme por ano. Justamente por ser tão prolífico, não é difícil que muitos de seus filmes acabem caindo em um limbo de estreias apenas regulares no circuito de cinema. Não é diferente com Verão de 85, longa que embarca no sucesso de Me chame pelo seu nome (2017) e também baseado (parcialmente) em um romance. O filme apresenta um amor de verão entre dois adolescentes na costa da Normandia, no final – e ritmo – da década de 1980.
Alexis é um adolescente de 16 anos do qual sabemos muito pouco. Ao som da banda The Cure, o menino é apresentado nas cores quentes e saturadas de um verão europeu, a praia está cheia e ele encontra um amigo que não pode sair porque tem um encontro com uma menina. Em seguida, Alexis pega o barco do amigo e sai velejar como um bom adolescente cheio de ímpetos e acaba preso no meio do mar, com uma tempestade à espreita. Nesse ponto surge David, outro adolescente um pouco mais velho que também está no mar e acaba resgatando Alexis. Há uma tensão sexual entre a dupla e há também o estranhamento corriqueiro nas relações propostas por François Ozon. David conduz o novo amigo não apenas para dentro de sua casa, mas também o seduz, comprovando que Alexis precisava apenas de um empurrão para sair do armário. O enredo do filme gira em torno da relação entre esses dois meninos que mesmo tendo quase a mesma idade, experienciam totalmente diferente suas identidades e afetos compartilhados.
O que Verão de 85 traz de diferente, de um filme regular sobre uma história de um casal de jovens adolescentes vivendo uma louca história de amor, é justamente algumas qualidades típicas de Ozon. O filme começa falando da obsessão com a morte e logo é percebido que há dois momentos distintos propostos pela montagem: o presente e o passado. Algo aconteceu para que Alexis narre a história sozinho, um acontecimento que é chave e que só pode ser compreendido ao longo da sua narração, esta que não está sempre presente. No começo, essa proposta de montagem parece bem interessante, porém não se sustenta. Talvez esse seja o intuito: há um tom sombrio no começo da narrativa que se desenvolve mais como um exagero da angústia juvenil do que é a história verdadeira de fato.
Apesar da proposta interessante – e também apelativa pelos elementos oitentistas e aventureiros de amor juvenil – Verão de 85 é apenas mais um filme regular na carreira do diretor francês. Porém, mesmo assim há alguns elementos que mobilizem espectadores, como a urgência dos corpos adolescentes e transbordantes de libido, a angústia dessa urgência, as promessas que vão até a eternidade do dia seguinte e também as delícias disso tudo.