Os desafios dos relacionamentos modernos se baseiam muito nos vícios comportamentais de cada indivíduo. Aquilo que nos nutre de forma negativa tende a ser mais difícil de se distanciar, por incrível que pareça. Tá aí Karen Kardasha, personagem do Instagram, e vários outros memes da internet que não me fazem mentir.
Em Você Merece Amar, filme dirigido, escrito e estrelado por Hafsia Herzi, vemos Lila perdidamente apaixonada por Remi, um cara totalmente off que se espalha pela conveniência. Quando lhe convém ele está presente, quando se sente sozinho, dá valor a quem está próximo, porém no instante seguinte é capaz de tratar com total descarte qualquer sentimento que é depositado a ele. As atitudes de Remi aprisionam Lila numa ciranda de incertezas em que ela não sabe em que pé está a relação. As várias interpretações de términos, perdões e voltas, confundem ela num ciclo de solidão profunda, apesar de que isso não afeta sua autoestima, mas seu semblante melancólico é constantemente colocado no roteiro para ilustrar seus sentimentos. O complicado é que entre tantos assuntos sobre o tema de relacionamento abusivo, como feminicídio, sentimento de inferioridade e manipulação machista, a roteirista resolve romantizar a surtação.
A trama acaba se diluindo justamente pelas ilustrações óbvias em que a atriz não é capaz de imprimir em expressões. A preguiça do roteiro de ser mais esperto e ágil deixa o filme cada vez mais sem sentido, capaz de tornar uma cena que deveria ser hilária como a da macumba, em pura chatice. Os personagens que sustentam as subtramas são colocados de maneira inorgânica e previsível, como por exemplo o amigo gay de Lila, que faz as vezes de um fiel espião, conselheiro e alívio cômico do filme, mas de nada acrescenta em sua jornada. Em certo ponto do filme, há o encontro aleatório com amigos de Lila numa rua, que desencadeia numa lavação de roupa suja entre ela e seu ex que coincidentemente estava no mesmo grupinho de pessoas, faz a gente perder o cunho de realidade daquela situação.
Você Merece Amar desdenha de seu rico potencial ao falar de relacionamentos tóxicos pela metade e entrega um filme comum, cheio de clichês e desculpas descaradas para justificar absolutamente tudo, e quando parece consertar seus erros ao chegar no final, entrega uma solução de amor próprio descabida em torno de uma foto.