“12 Anos de Escravidão” é uma adaptação poderosa e convincente do relato autobiográfico de Solomon Northup sobre os doze anos que passou como escravo nas plantações da Louisiana, de 1841 a 1853. Quando se trata de retratar as condições em que os escravos viviam e trabalhavam, “12 Anos de Escravidão” não oferece suavidade alguma. Cenas de brutalidade são retratadas em planos crus e incisivos.
O roteiro, de John Ridley, adapta a história de Northup (Chiwetel Ejiofor), um homem livre de Nova York que foi sequestrado e vendido como escravo. Ele trabalhou nas plantações por 12 anos, para vários proprietários, até que encontrou um aliado em um carpinteiro canadense branco que estava disposto a levar a notícia de sua situação para o norte. Depois de ser libertado, a história de Northup foi publicada e vendeu cerca de 30.000 cópias. Depois de ter sido esquecida por cerca de um século, foi redescoberta na década de 1960.
O filme de Steve McQueen (“Shame”) não é a primeira adaptação – em 1984, “Solomon Northup’s Odyssey”, foi um filme de TV que contou sua história, embora com a violência e a brutalidade atenuadas em relação ao que é retratado aqui.
O filme mostra a crueldade a qual os seres humanos são capazes. Nem todo homem branco no filme é vil – o Ford de Benedict Cumberbatch e o Bass de Brad Pitt são alguns exemplos – mas mesmo os melhores homens são prejudicados pelos costumes sociais e culturais de sua época. Duas pessoas personificam os aspectos mais desagradáveis dos homens brancos do Sul – Tibeats (Paul Dano), um trabalhador nas terras de Ford, e Edwin Epps (Michael Fassbender), proprietário de uma plantação de algodão. Ambos olham os negros como menos humanos, tornando assim justificável o tratamento que dispensam a eles. Epps também usa versículos bíblicos para validar suas ações ocasionalmente horríveis. Para alguns “fiéis”, a Bíblia pode ser usada para justificar qualquer atrocidade, e este é um exemplo.
O filme é dominado por Chiwetel Ejiofor. Como em “Lincoln”, onde Daniel Day Lewis, em 2013, também dominou o longa. Mas aqui, a atuação dele não é a única que chega ao máximo. As expressões faciais de Ejiofor, capturadas em closes prolongados por McQueen, exibem uma variedade de emoções com tanta convicção que faz parecer que o ator está vivendo aquelas atrocidades na pele.
Como vilão do filme, Michael Fassbender entrega um Epps que não está apenas podre, mas também desequilibrado (seja por bebida, fervor religioso ou algum tipo de doença mental). O personagem é mais assustador que o Tibeats de Paul Dano por sua imprevisibilidade e sua posição de poder.
“12 Anos de Escravidão” é perturbado e perturbador como só uma história desse tipo pode ser. Existem elementos de coragem e redenção, mas a impressão persistente nos lembra quão feio pode ser o lado obscuro da natureza humana. Tal como os filmes sobre a Alemanha Nazista, este filme ilustra os horrores que podem aparecer sob os alicerces da prosperidade económica e da civilização. Ele não se trata de um entretenimento leve, mas oferece uma experiência cinematográfica mais interessante do que cerca de 90% dos filmes que estão por aí e as impressões que deixa não são facilmente descartadas ou dissipadas.