O documentário 171 de Rodrigo Siqueira nos convida a uma jornada intrigante e provocativa pelo universo dos estelionatários. Ao misturar elementos de teatro e realidade, o longa nos apresenta um grupo de presidiários, todos condenados por crimes de estelionato, que se veem imersos em um experimento singular: a tentativa de definir o que os torna tão habilidosos em enganar os outros.
No direito penal, 171 é a sigla que tipifica os crimes de estelionato. Na cultura popular, é como informalmente se chamam as pessoas mentirosas que se aproveitam dos outros para obter vantagens para si mesmas. No documentário de Rodrigo Siqueira, seis pessoas cumprem pena em presídios em São Paulo por motivos diferentes, mas todas sob o crivo do artigo 171 do Código Penal: estelionato, furtos e golpes financeiros. Diante desses personagens e sob a premissa de que todo enganador é um narrador profissional, 171 os enxerga com outros olhos, apresentando suas histórias (verdadeiras ou não). Essa mistura entre teatro e realidade apresenta pequenos esquetes com os presidiários em busca de uma resposta para a questão: serão os seis golpistas ou atores natos?
A linha tênue entre a realidade e a encenação teatral torna a experiência de assistir ao documentário ainda mais rica e complexa. Afinal, até que ponto as histórias contadas pelos presidiários são verdadeiras? Essa questão está presente durante toda a narrativa e nos convida a refletir sobre a natureza da verdade e da identidade.
O filme oferece um olhar profundo sobre a mente dos estelionatários, revelando suas motivações, suas técnicas e suas perspectivas sobre o mundo. Ao acompanhar seus relatos e suas performances, podemos compreender melhor como funcionam os mecanismos da manipulação e da persuasão.
Embora não seja um documentário explicitamente político, 171 levanta questões importantes sobre a sociedade e as relações humanas. Ao mostrar como os estelionatários se aproveitam das vulnerabilidades das pessoas, o filme nos convida a refletir sobre a importância da confiança e da honestidade nas relações interpessoais.
Contudo, o filme poderia ter explorado com mais profundidade as causas sociais e psicológicas que levam as pessoas a se tornarem estelionatárias. A forte presença de elementos teatrais pode gerar dúvidas sobre a autenticidade das histórias contadas pelos presidiários, levantando questões sobre a ética da produção. Há quem afirme que o documentário, ao humanizar os estelionatários, corre o risco de romantizar o crime e minimizar a gravidade dos seus atos.
Em resumo, 171 é um documentário desafiador e original que nos convida a questionar nossas próprias percepções sobre a verdade, a mentira e a natureza humana. Ao mesmo tempo que nos diverte com as performances teatrais dos presidiários, o filme nos provoca a refletir sobre temas complexos e relevantes para a sociedade contemporânea.