Além de toda falta de humanidade que os nazistas praticaram contra os judeus durante a segunda guerra mundial, o roubo de obras de arte – e até a destruição total de grandes obras da História – foi uma das atitudes polêmicas praticadas na época, revisadas apenas meio século depois. Em A Dama Dourada, dirigido por Simon Curtis, é contada a famosa história da luta de Maria Altmann para que as obras de Gustav Klimt – especialmente “O retrato de Adele Bloch-Bauer”, sua tia – voltassem ao domínio da família, no caso ela, a última sobrevivente.
Os Bloch-Bauer foram uma das mais importantes famílias de mecenas judeus da Áustria no começo do século XX. Conhecidos por receberem em sua casa os grandes artistas da época, tinham uma vasta coleção de obras de arte que foi levada pelos nazistas em 1938, no auge do “confisco” de obras para um suposto enorme museu que Hitler sonhava em criar. Na época, Maria havia acabado de se casar com o cantor de ópera Fritz Altmann e assim que possível deixaram a Áustria afim de escapar dos campos de concentração que desapareciam com milhares de judeus.
Maria Altmann se tornou cidadã americana em 1945 e perdeu boa parte da família ora para os campos ora para suicídio. Em quase 50 anos recriou sua vida na América, tentando esquecer o que houve na época da grande guerra. Mas, aos 83 anos – no fim dos anos 90 – Maria soube que a Áustria abriria sessões para que fossem revisadas as situações das obras de arte roubadas pelos Nazistas. A Dama Dourada trata justamente o processo pessoal e judicial de Altmann e Randy Schoenberg para que as obras de Klimt, compradas pela família de Maria retornassem à ela, como uma forma simbólica de justiça pelas humilhações vividas.
A Dama Dourada é baseado em um livro de memórias de Maria e Randy sobre o processo que durou cerca de oito anos. O longa – por questões narrativas – não se foca em tratar da vida de Altmann como uma sobrevivente da Segunda Guerra, mas apesar disso consegue ter cenas comoventes, usando tensas formas simbólicas, recriando a forma que o nazismo se instaurava pela Europa, apoiado pela passividade da população.
Os destaques nas atuações são Hellen Mirren e Tatiana Maslany, Maria na atualidade do filme e jovem, respectivamente. Mirren é uma das grandes atrizes inglesas e mais uma vez demonstra que é excelente em papéis de grandes mulheres, sem contar que seu alemão e o leve sotaque na pronúncia do inglês ajudam a compor a veracidade da personagem. Ryan Reynolds e o ótimo Daniel Brühl também não fazem feio apesar de Reynolds ainda parecer desconfortável em papéis mais sérios.
Já Simon Curtis comprova que gosta de adaptar recortes históricos para o cinema, assim como já havia feito mais recentemente em Sete Dias com Marylin. Curtis consegue equilibrar toda a questão mais entediante de tribunais, leis e brigas judiciais com as memórias de Maria Altmann. A direção de arte transporta muito bem para a tela cenas de época e o destaque vai para as ambientações dos eventos que aconteciam dentro da casa dos Bloch-Bauer, como a cena de Klimt pintando a famosa tela de Adele Bloch-Bauer.
Talvez “A Dama Dourada” não corresponda muito as expectativas de quem espera algum retrato mais específico das obras de Gustav Klimt, mas executa um papel fundamental em trazer à tona a situação de obras apreendidas pelo nazismo. A história de Maria Altmann e sua família é apenas um pequeno recorte – e mesmo assim, quase uma metáfora – das atrocidades causadas pelo nazistas, que agiam de forma paradoxal entre repudiar os judeus e tomar para si as referências e a cultura destes. “A Dama Dourada” mostra, principalmente, que a História e a Arte nunca morrem e as ações reverberam pelos séculos, mesmo que seja através de um retrato.
A Dama Dourada
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