A Garota da Vez marca a estreia de Anna Kendrick na direção e ela faz um thriller que mistura entretenimento e horror, com base em uma história real chocante. Kendrick também assume o papel da protagonista, Cheryl Bradshaw, que participa de um programa de TV nos anos 1970 e acaba escolhendo Rodney Alcala, um serial killer, como seu pretendente. O filme explora essa relação perturbadora e a tensão que surge a partir de uma fachada inocente, trazendo uma abordagem diferente para um filme true-crime.
A direção de Kendrick faz uso interessante das emoções internas de Cheryl, utilizando-se de close-ups e enquadramentos que revelam tanto o desconforto quanto a tensão crescente entre ela e Alcala, interpretado por Daniel Zovatto. Desde a cena inicial, que mostra o assassino em ação, A Garota da Vez já estabelece uma atmosfera inquietante. O filme se move entre diferentes linhas temporais, saltando entre os crimes de Alcala e a vida de Cheryl, oferecendo uma perspectiva abrangente do terror escondido sob o charme superficial de Alcala.
O roteiro, no entanto, tropeça em alguns momentos ao tentar contar a história através desses saltos temporais e diferentes pontos de vista. Isso pode causar uma certa confusão ao público, especialmente quando os eventos pré e pós-aparição de Alcala no programa de TV começam a se misturar. A ideia de mostrar as vítimas logo antes de serem assassinadas cria uma sensação de urgência, mas também diminui a profundidade de seus personagens, tornando-as meras peças de uma narrativa maior.
Embora a trama de A Garota da Vez nem sempre siga uma linha clara, Kendrick constroi a tensão de maneira eficaz quando se concentra no encontro de Cheryl e Rodney. A participação de Cheryl no programa The Dating Game é o ponto alto do filme, com a interação entre os dois sendo mediada por uma plateia ao vivo e pelo apresentador, interpretado por Tony Hale. Sabendo do perigo que Rodney representa, o público se sente ainda mais inquieto enquanto Cheryl tenta se esquivar de sua presença.
Zovatto, com sua interpretação fria e metódica de Rodney Alcala, consegue trazer uma sensação de pavor constante. Seu meio sorriso perturbador e a maneira calma como ele se aproxima de suas vítimas criam uma tensão incômoda, que é complementada pela trilha sonora ameaçadora composta por Dan Romer e Mike Tuccillo. É através desses elementos que Kendrick constroi uma atmosfera de suspense presente em grande parte do filme.
Infelizmente, o desenvolvimento de Cheryl não é tão profundo quanto poderia ser. Apesar da boa atuação de Kendrick, a personagem parece superficial em alguns momentos, deixando de explorar mais seu lado psicológico diante da revelação de que estava em um encontro com um serial killer. Isso acaba limitando o impacto emocional do filme, que poderia ter ido além da simples construção de um thriller.
No entanto, há momentos de grande tensão, como quando uma mulher do público reconhece Rodney Alcala e tenta alertar a produção do programa sobre quem ele realmente é. Essas cenas dão a sensação de urgência e perigo iminente, e conferem ao filme uma qualidade de thriller que funciona muito bem. A forma como Kendrick orquestra esse “jogo contra o tempo” aumenta a sensação de perigo ao redor de Cheryl.
O filme encerra de maneira eficaz com um sentimento de alívio e esperança, destacando que A Garota da Vez não se resume apenas ao horror, mas também à força de vontade de seus personagens em sobreviver. Isso dá ao filme uma dimensão mais emocional, mesmo quando outros aspectos da narrativa falham.
No geral, A Garota da Vez é um thriller psicológico que, apesar de alguns tropeços, consegue causar impacto com sua história assustadora e sua atmosfera de tensão crescente. A estreia de Kendrick na direção é promissora, e sua capacidade de criar cenas de suspense é notável, mesmo que o filme como um todo não alcance todo potencial pretendido.
