A Malvada

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"A Malvada" é uma das jóias dos anos 1950

“A Malvada” possui um dos melhores roteiros de todos os tempos. Conta também com uma das melhores atuações de uma atriz na história de Hollywood. Porém, Joseph Mankiewicz foi agraciado com um Oscar pelo roteiro, enquanto Bette Davis foi desprezada em favor de Judy Holliday por “Nascida Ontem”.

Por uma série de razões, algumas intencionais e outras coincidentes, “A Malvada” se destaca como um dos melhores dramas mundanos já produzidos. Na verdade, o filme depende tanto dos diálogos e tem um número tão limitado de cenários que poderia facilmente ser confundido com uma adaptação cinematográfica de uma peça teatral. O fato dele tratar dos bastidores do teatro serve apenas para fortalecer essa suposição.

Davis, uma das grandes damas de Hollywood, prosperou por causa de sua atitude, que representava a maior parte da sua característica como estrela não convencional. É verdade que ela tinha olhos incríveis (como observado na música hit dos anos 1980, “Bette Davis Eyes”), mas foi a maneira como ela se comportava em cena que chamou a atenção pra ela. Sua reputação foi cimentada por dois filmes: “Jezebel”, feito no início de sua carreira e pelo qual recebeu um Oscar, e “A Malvada”, que a resgatou do esquecimento e a trouxe de volta para o primeiro escalão.

Claudette Colbert ia interpretar Margo Channing quando um acidente a tirou do filme. Depois que outras atrizes recusaram o papel, foi feita uma oferta a Davis, que aceitou após ler o roteiro. Os paralelos entre Margo e Davis são fáceis de perceber – ambas eram atrizes atrevidas e já na terceira idade que lutavam contra as probabilidades para permanecer no topo. Para adicionar outra camada de semelhança, durante a produção, Davis teve um caso com Gary Merrill, que interpreta o amante de Margo na tela, Bill Sampson. Em uma entrevista após o término do filme, Davis admitiu que não sabia totalmente onde terminava a personalidade da sua personagem e começava a sua.

O enredo é simples, como convém a um filme que se baseia mais em diálogos, personagens e motivação humana do que na narrativa. A natureza descomplicada do enredo também permite que Mankiewicz se dê bem com um trabalho de câmera simples e tradicional. Muitos críticos comentam que o único aspecto de “A Malvada” que o impede de ser mencionado no mesmo nível de “Cidadão Kane” e “Crepúsculo dos Deuses” é a natureza simples do seu visual.

Além da atuação de Davis, que é inesquecível, o roteiro também é motivo para saborear “A Malvada”. Quase todo personagem possui um momento icônico, e não leva muito tempo sem um momento no filme em que alguém diga algo afiado. Davis e George Sanders obtêm os melhores diálogos, e sua entrega aumenta a qualidade do que Mankiewicz escreveu. Embora o roteiro de Mankiewicz seja vagamente baseado na peça de Mary Orr, “The Wisdom of Eve”, quase tudo o que é memorável no filme vem da imaginação do próprio Mankiewicz. O diálogo é dele, assim como a psicanálise dos personagens.

Para quase todos os envolvidos em “A Malvada” (com exceção de Marilyn Monroe), este filme representou o auge de suas carreiras. Mankiewicz nunca chegou perto de atingir esse nível de sucesso novamente e, embora isso estivesse longe de ser o último trabalho para Bette Davis, foi seu último grande papel. No entanto, considerando quão poucas pessoas em Hollywood estiveram envolvidas numa produção tão boa, não é vergonha dizer que nunca mais alcançaram este tipo de sucesso. “A Malvada” é uma das jóias dos anos 1950 e um filme que, devido ao seu diálogo inestimável e desempenho inesquecível, nunca perderá seu brilho.

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