O Rei Sol, Luís XIV, começou seu governo na França com apenas 5 anos de idade e conquistou um reinado absolutista dos mais longos da história do país. Acreditando ser um representante divino, sua imagem de poder ganhou o status de Deus, e por isso o apelido, em que se compara com um símbolo de ordem, rigor e vida que é o sol.
No filme visualmente belo de Albert Serra (História da Minha Morte), é contada uma história particular na vida do Rei, sua morte. Ao sentir algumas dores nas pernas durante um passeio, Luís XIV fica debilitado e permanece em repouso para cuidar da saúde. Com tanto carisma e adoração do povo, esse fato é difícil de ser desenvolvido quando se trata de tom em um roteiro. A Morte de Luís XVI aborda todo o processo de deterioração da forma física do homem. Ainda mais em uma época carente de medicina ativa para muitas doenças, mesmo quando se tratava de uma “divindade”. Esse paralelo feito entre um Deus que encontra sua mortalidade numa doença gradativa, trás o peso que o roteiro precisa para atingir seus pilares de desenvolvimento de trama.
O que resta ao rei, é aguardar e deixar seu legado. E ele o faz, até que de bom humor, já que não vê outra saída para o seu caso. Mesmo doente, ele continua cuidando de suas tarefas, mas com ajudas extras de seus servos, que o bajulam até o último momento e tomam conta dos rituais de cuidados e exigências patrimoniais do Rei. Jean-Pierre Léaud, que interpreta Luis XIV, não tem uma tarefa fácil para recriar uma figura tão emblemática e forte, mas o faz com maestria, de uma maneira calma e sem cair nos exageros. A direção inclusive, busca muito por reações ao longo do filme e resultados de performances e expressões para guiarem todo o longa, a história e os conflitos pegam carona nesse olhar para concluírem um raciocínio.
O tom fúnebre e depressivo não favorece a sessão que provavelmente interessará a um nicho muito específico de espectadores ou curiosos, mas não há de se negar a beleza de toda essa construção de detalhes de produção e cuidados com a narrativa que transmitem nada mais do que uma aproximação da verdade de uma história que realmente não é feliz, afinal o papo aqui é a morte de um símbolo divino que travou guerras, construiu o Palácio de Versailles, um dos maiores patrimônios franceses e, ainda por cima é case de estudos desde assuntos políticos até coleções de moda. Importância não falta para o Rei Sol, e o longa não o trata como um conquistador a todo momento, mas sim um ser humano por trás de todo destaque e imagem de destaque que foi construída ao longo de seu reinado. Nos é mostrada a verdade e a fragilidade da vida.