Filmes franceses são famosos por lidar com problemas familiares, mas poucos os abordam por ângulos exagerados como À Sua Completa Disposição, uma dramédia bastante peculiar, estridente e socialmente ressonante sobre uma família franco-argelina cujos membros disfuncionais são o foco principal.
Escrito e dirigido por Baya Kasmi (co-roteirista de Hipócrates), À Sua Completa Disposição tenta cobrir muitos tópicos e assuntos de uma única vez e não se torna tão engraçado quanto poderia ser, mas consegue fazer uma leitura apurada sobre as mudanças culturais da França atual.
No filme, a charmosa Hanna (Vimala Pons), de 30 anos, tem uma herança genética peculiar de seus pais: ela é incapaz de dizer não. E, sendo diretora de Recursos Humanos de uma grande empresa, ela tem sérios problemas quando precisa demitir alguém. Para contornar seu medo do “não”, a jovem achou uma única solução para ser perdoada e não se sentir mal por isso: fazer sexo com os homens que ela precisa demitir. Mas isso vai lhe causar grandes confusões.
Há muito acontecendo no longa e Kasmi mistura os ingredientes de forma que podem se tornar cansativos até o fim da projeção: as piadas envolvendo a ninfomania de Hanna são um pouco difíceis de lidar. Por outro lado, o fanatismo de Hakim, irmão de Hanna, e a “islamização” do bairro onde vivem, são assuntos abordados de forma inteligente, sem nunca sentirmos que há condescendência com a religião.
É rara uma comédia nessa França multicultural e Kasmi merece crédito por se afastar dos estereótipos racistas. Ao mesmo tempo, a diretora não sabe ao certo onde concentrar toda a sua energia. Saltando daqui para lá, ela vai do drama social ao trauma de infância, sem encontrar o tom certo para unir tudo coesamente.
Entre fé e família, ainda assim, À Sua Completa Disposição, é um filme leve e que você pode aproveitar justamente pela diversidade de temas, se não ligar de pular de um lado pro outro no processo.