Claude Lherminier (Jean Rochefort) é um senhor que mora em uma casa simples (mas aparentemente bem cara) num lugar lindíssimo no sul da França. Espirituoso e travesso, até um pouco maldoso, Claude gosta de pregar peças em suas cuidadoras, até o ponto em que não aguentem mais o trabalho. Um relógio sumindo aqui, uma acusação acolá, até a Sra. Forgeat (Édith Le Merdy), última vítima, não mais suportar.
Enquanto nos divertimos com sua preferência pelo suco de laranja que vem da Flórida, começamos a perceber que há algo diferente em seu comportamento, rompantes de memória que o deixam sem saber quem é ou com quem está lidando. Sua condição é sutilmente revelada, mas nunca dita com todas as palavras.
Claude costumava ser o gerente de uma fábrica de papel, mas de uma hora para outra decidiu se aposentar e sobrou para sua filha mais velha, Carole (Sandrine Kiberlain), tocar o negócio da família. Carole tem um filho crescido, Robin (Clément Métayer), com verdadeiro carinho pelo vô, e também um amor em sua vida, Thomas (Laurent Lucas), funcionário na mesma empresa de papel.
A narrativa do filme mistura o desenrolar da trama com momentos de um voo de Claude, que logo percebemos ser para Miami, na Flórida, lugar onde sua filha mais nova, Alice (Audrey Looten), mora com o marido. Existe uma sutileza na forma com que a história é passada para o espectador, que descobre pouco a pouco que há mais além do que se vê, todo um subtexto por trás de reações e silêncios dos personagens.
Sua beleza está em mostrar o lado dos personagens, as concessões feitas pelas pessoas que amamos, a dificuldade das escolhas que precisamos fazer. Nos envolvemos com o drama de Claude, mas também com o de Carole, cujos intérpretes estão excelentes em seus respectivos papéis. A relação deles é a alma do filme, e é emocionante ver sua construção, assim como sua desconstrução.
Prepare-se para rir e chorar na mesma medida, porque A Viagem de Meu Pai é daquele tipo de filme que vem sorrateiramente, mas te tira do eixo.