A Voz que Resta

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“A Voz que Resta” é um monólogo que tem como ritmo a monotonia de um cara qualquer

Difícil não começar esse texto fazendo um trocadilho com o nome do filme A Voz que Resta: seria melhor se não tivesse sobrado voz nenhuma para o protagonista Paulo, um cara que parece saído das piores histórias do escritor estadunidense Charles Bukowski. Digo “piores” porque até o velho Chinaski oferece um pequeno grau de entretenimento ao mostrar a sua mediocridade.

Nesse longa, dirigido por Roberta Ribas e Gustavo Machado (o tal do Paulo), passamos 90 minutos ouvindo a lamúria bêbada do cara, se rastejando por uma quitinete que, aparentemente, está sendo esvaziada. Ah, não dá para esquecer a luz de inferninho do cenário na maior parte do tempo, talvez uma tentativa de trazer alguma menção à ideia de paixão etc. O resumo da ladainha é que Paulo, um jornalista (tá mais pra copidesque), se apaixonou pela vizinha Marina quando ela “flertou” com ele no elevador. Isso é o que ele diz, pelo menos. Durante toda a duração do filme ele segue ora narrando encontros possíveis, imaginando como eles poderiam trepar, mas também reclamando dela e do seu comportamento. Em alguns flashes – com maior cara de sonho – partes do corpo e rosto de Marina surgem na tela. Porém, nada demais, Marina é só um desejo irritante do Paulo. Aí o dia amanhece e o filme acaba.

É compreensível que o filme seja uma adaptação de uma peça que fez grande sucesso, com muitas temporadas. Gustavo Machado, além de ótimo ator, tem uma voz grave e bem treinada para esse tipo de empreitada, e até convence por uns 15 minutos. O monólogo deve funcionar bem no tempo do teatro e relação com a plateia que, literalmente, está presente sentindo a derrocada desse homem ali na frente. Mas como uma peça audiovisual, A Voz que Resta simplesmente não cola, esquecível.

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