O rótulo “baseado em fatos reais” é bastante importante para a forma como Argo será recebido. Normalmente não importa muito, mas, ao documentar eventos históricos como os descritos aqui, mesmo que muito possa ter sido ficcionalizado, os laços do filme com a vida real podem adicionar textura à forma como a narrativa é vista.
Superficialmente, Argo é um thriller com toque de espionagem/corrida contra o tempo, ambientado no Irã em 1980. Reconhecer que muitos elementos retratados ali são extrações de eventos reais aumenta a importância do que a produção tem a dizer.
No filme, o Irã está em ebulição, com a chegada ao poder do aiatolá Khomeini. Como o antigo xá ganhou asilo político nos Estados Unidos, que haviam apoiado seu governo de opressão ao povo iraniano, há nas ruas de Teerã diversos protestos contra os americanos. Um deles acontece em frente à embaixada do país, que acaba invadida. Seis diplomatas americanos conseguem escapar do local pouco antes da invasão, indo se refugiar na casa do embaixador canadense. Lá eles vivem durante meses, sob sigilo absoluto, enquanto a CIA busca um meio de retirá-los do país em segurança. A melhor opção é apresentada por Tony Mendez (Ben Affleck, de Atração Perigosa), um especialista em exfiltrações, que sugere que uma produção de Hollywood seja utilizada como fachada para a operação. Aproveitando o sucesso de filmes como Star Wars e Planeta dos Macacos, a ideia é criar um filme falso, a ficção científica Argo, que usaria as paisagens desérticas do Irã como locação. O projeto segue adiante com a ajuda do produtor Lester Siegel (Alan Arkin, de Pequena Miss Sunshine) e do maquiador John Chambers (John Goodman, de O Artista), que conhecem bem como funciona Hollywood.
O roteiro, escrito por Chris Terrio, se baseia num artigo da Wired de Joshuah Bearman de 2007, e através dele ajusta eventos básicos para serem mais cinematográficos. Em particular, o suspense presente no último ato é intensificado pelo uso de várias técnicas que deixarão qualquer um na beira da poltrona, mesmo que o desfecho da história seja conhecido.
A direção ritmada de Affleck permite que Argo pareça mais curto do que seus 120 minutos. O filme é empolgante sem recorrer aos clichês frequentemente encontrados em thrillers de espionagem. Não há tiroteios, lutas ou explosões. Todo o suspense deriva da implicação do que poderia acontecer se os personagens fossem pegos. Existe uma sensação de perigo pairando por todo o filme.
Argo contém muitos elementos que fazem dele um forte candidato ao Oscar. É uma história envolvente que mantém os espectadores atentos durante toda a projeção. É baseado em fatos reais. É dirigido com talento e estilo por um ator-diretor admirado. E a recriação do período é impecável. Muitos filmes nos levam de volta ao final dos anos 70/início dos anos 80, mas poucos o fizeram com tanta maestria sem apelar para o kitsch. Argo é um filme e tanto. Mas mais do que isso, é um filme inteligente – algo para nos deleitar nesse início de corrida pelas premiações de 2013.