Para que um espectador atual possa entender como A Volta ao Mundo em 80 Dias ganhou o Oscar de Melhor Filme em 1957 (além de outras quatro estatuetas), é necessária muita imaginação ou uma viagem no tempo. Pelos padrões de hoje, não há nada no extenso épico que justifique o prêmio… a menos que alguém esteja oferecendo o prêmio de Melhor Diário de Viagem.
Com um ritmo preguiçoso e sonolento e uma quantidade interminável de participações especiais, A Volta ao Mundo em 80 Dias parece se desenvolver em tempo real. No entanto, se voltarmos atrás e considerarmos como ele foi recebido em seu lançamento, tudo faz sentido.
Com um inovador formato widescreen, uma paleta de cores vibrantes e uma câmera envolvente, a produção de maior sucesso de Michael Anderson representava o que havia de melhor no quesito espetáculo grandioso. E, depois de premiar filmes menores, focados em personagens por três anos consecutivos (A um Passo da Eternidade, em 1954, Sindicato de Ladrões, em 1955, e Marty, em 1956), a Academia decidiu mirar na grandiosidade. E, para o bem ou para o mal, nada foi maior do que A Volta ao Mundo em 80 Dias naquele ano.
O livro no qual o filme se baseia é uma leitura envolvente. Tem menos de 150 páginas e pode ser lido praticamente uma sentada. (Talvez você levasse menos tempo para ler o livro do que para ver o filme, que possui nada menos do que 2h47). E diferente do filme ele estimula a imaginação.
A versão de 1956 substitui a imaginação por visuais impressionantes e parece determinada a manter os espectadores assistindo pelo maior tempo possível. É tudo muito descontraído, porém, às vezes, um pouco tedioso. Existem algumas tomadas muito bonitas, no entanto. E em nenhum momento os detalhes da produção, que foram aos locais para ser filmados, em muitos dos casos, são nada menos que impecáveis.
Como um conto de aventura, A Volta ao Mundo em 80 Dias só tem sucesso ocasionalmente. Muitas das supostas sequências de “ação”, como a tourada e o resgate de Aouda, são lentas e dificilmente geram tensão do público atual. O único momento em que o filme estimula o suspense é quando chega à América do Norte. Em uma sequência na qual um trem precisa passar por uma ponte que está colapsando. Em outra situação (que causaria o cancelamento do filme nos dias atuais), a locomotiva é atacada por nativos americanos.
Em 2004, a Disney resolveu embarcar na produção de uma refilmagem com grande orçamento, que foi mais uma reimaginação da história do que uma recriação do filme de 1956, embora ele tenha sido uma inspiração óbvia, nitidamente. Apesar de ter apenas dois terços da duração, o filme não tinha um ritmo melhor e, como resultado, parecia mais uma imitação do que uma nova interpretação.
Vistos juntos, os dois filmes confirmam a teoria de que, por mais amado que seja o material original, ele pode não ser tão fácil de adaptar. Embora A Volta ao Mundo em 80 Dias possua visuais lindos, isso não é justificativa para assistir ao filme – qualquer filme – por quase três horas.