O mais novo épico do maior diretor em atividade da atualidade, Martin Scorsese, de 80 anos, e de carta aberta para fazer o filme que quiser, é inspirado no best-seller do escritor David Grann e também baseado em uma história real. Assassinos da Lua das Flores se passa na década de 1920, na região norte-americana de Oklahoma.
No enredo, membros da tribo da região de Osage começam a ser assassinados em circunstâncias misteriosas após tornarem-se muito ricos ao encontrar petróleo em suas terras. Os assassinatos acabam assolando os membros da tribo que sem auxílio na região, pedem ajuda do governo em Washington, desencadeando uma grande investigação. O caso passa a ser investigado pelo Bureau of Investigation, a agência de segurança do governo que mais tarde se tornaria o FBI, de J. Edgar Hoover.
Já o personagem Ernest (Leonardo DiCaprio) é um rapaz tranquilo que volta da primeira guerra para tocar a vida nessa cidadezinha nos vales dos rios Ohio e Mississipi, ao lado do poderoso e traiçoeiro tio fazendeiro conhecido como King Hale (Robert De Niro) e acaba se apaixonando e casando com a nativa de bom partido Mollie. Nessa comunidade, dividendos são pagos aos indígenas para obter o direito de explorar a terra rica em petróleo. Mas quando os Osage são mortos, as terras ficam de herança para os invasores brancos, que se viam mais importantes que os nativos e em torno dessa causa o massacre acontece.
Nessa trama envolvente, Scorsese e seu roteirista Eric Roth (Duna) contam uma história chocante de preconceito, ganância, amor e traição, inspirada nas origens americanas, onde não desperdiçam um minuto e não há cena que se arraste. A fotografia é linda, a câmera é muito elegante e a trilha soft de Robbie Robertson se encaixa perfeitamente na história que é contada com muita calma, sem nunca ter pressa e aos poucos os absurdos vão sendo revelados.
Gigantesco em tempos de execução (3h26), tema e realização, o longa é uma avaliação sóbria do relacionamento dos Estados Unidos com os povos indígenas nativos americanos e mais uma obra prima para o catálogo do mais que aclamado diretor, pois já estreia como um clássico instantâneo e um dos mais fortes concorrentes ao Oscar de Melhor Filme, Direção e Elenco.
Falando em elenco, não tem como não mencionar as atuações fantasticamente habilidosas de DiCaprio, que está quase irreconhecível, De Niro, como o inescrupuloso compêndio da maldade em pessoa, e a grande revelação Lily Gladstone, que aos 37 anos estrela nessa interpretação fenomenalmente contida, sutil e ao mesmo tempo poderosa, tornando-se uma peça chave do filme. O elenco ainda conta com a presença de outros grandes nomes como Jesse Plamons (Ataque dos Cães) e Brendan Fraser (A Baleia). Uma outra curiosidade sobre o elenco é que DiCaprio estreou em Hollywood ainda adolescente, há 30 anos atrás no filme Despertar de um Homem (1993), ao lado de Robert De Niro que fazia o papel de seu padrasto.
Assassinos da Lua das Flores é quase um faroeste melancólico onde a gana por dinheiro é a principal razão para muito derramamento de sangue. O “Reinado do Terror”, como foi chamado pelos Osage, lembra muito o massacre de Tulsa, nesse caso ocorrido contra o povo indígena que gerou inveja nos brancos.