Babel, de Alejandro González Iñárritu, é o encerramento de uma trilogia iniciada com Amores Brutos e continuada em 21 Gramas. Aqui, o diretor refina sua abordagem narrativa e entrega um longa mais acessível e linear, mas ainda profundamente emocional e reflexivo. O filme constrói um mosaico de histórias interligadas, abordando como pequenos deslizes e falhas de comunicação podem desencadear tragédias.
A narrativa se passa em diferentes pontos do mundo, mas começa em uma aldeia marroquina, onde dois garotos testam um rifle, desencadeando um disparo que atinge Susan (Cate Blanchett), uma turista americana. Esse incidente ecoa nos Estados Unidos, onde os filhos de Susan estão sob os cuidados da babá Amelia (Adriana Barraza), no México, onde Amelia os leva para um casamento, e no Japão, onde a adolescente surda Chieko (Rinko Kikuchi) enfrenta sua solidão em meio à metrópole de Tóquio. Cada segmento revela como decisões cotidianas podem ganhar proporções devastadoras.
Iñárritu constrói um retrato humano e empático, no qual não há vilões. As tragédias apresentadas são frutos de atos impulsivos ou desinformados, sem malícia. A compra de uma arma para proteger o gado culmina na separação de crianças americanas no deserto da Califórnia. A abordagem do filme ecoa o “Efeito Borboleta”, sugerindo que ações aparentemente insignificantes podem gerar consequências em escala global.
Entre as tramas, a de Chieko é a mais visceral. Alternando entre o silêncio de sua perspectiva e o caos visual e sonoro de Tóquio, o filme cria momentos de impacto emocional únicos. Rinko Kikuchi entrega uma atuação arrebatadora, roubando a cena mesmo ao lado de astros como Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael García Bernal. Sua jornada é profundamente comovente, um reflexo da desconexão emocional presente no longa.
A cinematografia de Rodrigo Prieto é um dos grandes trunfos do filme. Cada cenário – do calor opressor do Marrocos à frieza urbana do Japão – é capturado com uma precisão que amplia a imersão do espectador. A trilha sonora de Gustavo Santaolalla complementa o visual com delicadeza, reforçando a carga dramática sem jamais ser invasiva.
O roteiro de Guillermo Arriaga, ainda que complexo, é instigante. A fragmentação temporal e geográfica não dificulta o entendimento, mas enriquece a experiência, convidando o espectador a montar o quebra-cabeça emocional que conecta esses personagens. O filme é um lembrete de como a humanidade está interligada, mesmo que, muitas vezes, falhemos em nos comunicar.
Babel é um marco no cinema contemporâneo, um drama maduro e profundamente reflexivo. Iñárritu demonstra um domínio técnico e narrativo impecável, criando uma obra que não apenas emociona, mas também provoca reflexões sobre nossa capacidade de coexistir em um mundo cada vez mais conectado e, paradoxalmente, distante. É um filme que permanece com o espectador muito além dos créditos finais.