Belinda, dirigido por Jean Negulesco, é um melodrama intenso e ousado para sua época, abordando temas como deficiência, violência sexual e preconceito social. No centro da trama está Belinda (Jane Wyman), uma jovem surda que enfrenta um mundo hostil enquanto tenta encontrar sua voz por meio da linguagem de sinais e do apoio de um médico compassivo, Dr. Robert Richardson (Lew Ayres).
A performance de Wyman é o coração do filme. Com uma atuação que dispensa palavras, ela transmite de forma poderosa as emoções de sua personagem, desde a inocência até a dor e a resiliência. Sua vitória no Oscar de Melhor Atriz não apenas consagrou sua carreira, mas também trouxe atenção para o talento necessário para retratar personagens com deficiências em um período em que isso raramente era feito com sensibilidade.
A relação entre Belinda e o Dr. Richardson é apresentada com delicadeza, revelando o impacto do afeto e da paciência em um ambiente marcado pelo preconceito. A trama, porém, ganha contornos trágicos quando Belinda é atacada por Locky MacCormick (Stephen McNally), um ato que resulta em uma gravidez e desafia as rígidas convenções morais de sua comunidade.
Negulesco equilibra o drama humano com um retrato atmosférico da Nova Inglaterra, habilmente recriado na costa da Califórnia. A cinematografia em preto e branco de Ted McCord capta a dureza do ambiente natural, com nevoeiros e ventos que refletem a turbulência emocional da história. Esse cenário contribui para um senso de isolamento que acentua a vulnerabilidade de Belinda.
Embora alguns aspectos de Belinda possam parecer datados, especialmente em seu tom melodramático, o filme continua relevante pela forma como desafia os estigmas sociais da época. Ele provoca reflexões sobre a autonomia de pessoas com deficiência, os julgamentos precipitados de comunidades pequenas e a coragem necessária para enfrentar a injustiça.
Com uma narrativa que mescla dor e superação, Belinda se mantém como um marco no cinema clássico, tanto por sua temática quanto por suas conquistas artísticas. É um lembrete de que, mesmo nos momentos mais sombrios, há força nos silêncios e nas histórias não contadas.