Reencontrando a Felicidade

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“Reencontrando a felicidade” talvez não entre para a história, mas é um grande filme

Opinião com alto grau de universalidade ou não, considero admirável quando a forma como uma história é contada provoca no espectador algo da sensação vivida pelo protagonista sem depender da empatia, naturalmente o nosso meio de “identificação com o outro”. É o que acontece com “Reencontrando a felicidade”. Passo a passo: assim que nos recuperamos da perda de um ente querido, assim que se desenrola o longa baseado na peça de David Lindsay-Abaire – independente de qual tenha sido a intenção. Recuperação essa que nunca se completa, como é tão lindamente colocado no diálogo entre Nat (Dianne Wiest) e Becca (Nicole Kidman), mãe e filha, no porão: a dor não desaparece, mas se torna suportável em algum ponto; um peso que às vezes volta-se a notar que se carrega.

Tudo se apresenta aos poucos, de uma maneira tão intrincada e frágil, que, dependendo da sinopse, o próprio ato de lê-la antes do filme implica não o experienciar por completo. Frágil porque uma imagem sequer que mostrasse mais do que o essencial ou que viesse antes do tempo teria consequências drásticas ao ritmo que John Cameron Mitchell imprime à obra, o qual a sustenta, uma vez que “pouco acontece” e “muito significa”. Felizmente, o elenco, com grandes nomes e um iniciante talentoso (Miles Teller, que faz o papel de Jason), apropria-se disso e concebe personagens profundos, cujos alicerces são independentes das linhas, ricas mas poucas, que proferem. O único que parece um pouco deslocado é Aaron Eckhart, que perde a chance de mostrar versatilidade como ator.

“Reencontrando a felicidade” talvez não entre para a história, mas é um grande filme, que perturba, questiona, sem dar fechamentos. Sensível e não melodramático, tem momentos singelos contrabalanceados por outros de visceralidade bruta (a maioria reservados a Nicole, que os domina perfeitamente), como quem se pergunta até que ponto conseguimos reprimir a dor em prol do outro, de uma convivência saudável, ou, simplesmente: como, e por quê, retomar a vida como ela era antes, se ela já não é como antes?

O filme ganha camadas de interesse quando nele se encaixa a questão dos universos paralelos trazida pela física quântica (o que justifica o título em inglês), com a possibilidade (não um consolo) de que outras versões de nossas vidas estão acontecendo em outras dimensões. Porém isso pouco contribui para a história como um todo, servindo apenas para acentuar a causalidade da relação entre Becca e Jason. Mesmo assim, são muitas as perguntas que ficam ressoando depois que deixamos a sala do cinema.

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