Collective

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O documentário “Collective” expõe que tudo que está debaixo dos panos do sistema de saúde romeno está literalmente podre

Com a chegada, no Brasil, dos filmes do diretor romeno Radu Jude – para não citar outros como Cristi Puiu e Cristian Mungiu – sempre fica uma sensação de semelhança entre os cenários políticos brasileiro e romeno. Inclusive, no filme Eu não me Importo se Entrarmos para a História como Bárbaros (2018), o Brasil é mencionado (como piada) em um comentário sobre países ainda apegados aos regimes ditatoriais do passado. O documentário Collective, dirigido por Alexander Nanau e um dos indicados ao Oscar de filme estrangeiro de 2021, expõe mais fendas da história política daquele país, contando o trágico episódio de um incêndio em uma boate que acabou revelando uma rede de corrupção no sistema de saúde.

Parecido com o que houve no Brasil, no caso da boate Kiss – em 2013, na cidade de Santa Maria/RS –, um incêndio durante um show na boate Colectiv matou e feriu centenas de pessoas. Podia ser mais uma tragédia técnica se algumas dezenas de pessoas queimadas não tivessem morrido por infecção em um hospital na cidade de Bucareste. O estranhamento pela morte de pessoas com queimaduras em baixa porcentagem levou os familiares a se manifestarem em busca de respostas. Collective expõe fraudes no sistema de saúde mostrando a importância do jornalismo investigativo em uma sociedade que, mesmo décadas depois do fim da ditadura, ainda sofre com práticas que eram corriqueiras naquela época, como corrupção e manipulação de dados.

Collective propõe uma narrativa corpo a corpo com quem assiste, não apenas pelas semelhanças no histórico político, mas pela narrativa e montagem que aproximam e tornam as situações realistas. Também, em muitos momentos parece ficcional todas as situações mais extremas, como pessoas queimadas com larvas percorrendo as queimaduras ou as expressões de desespero de um jovem ativista pelos direitos de pacientes quando colocado na função de ministro da saúde.

O filme é construído com cenas que mostram desde o momento que um celular filma o lugar começando a pegar fogo, as pessoas correndo e o pânico, passando pela vida de sobreviventes em busca de justiça e adaptação, até os resultados absurdos da manipulação de desinfetantes hospitalares misturados com água e as ameaças vindas de diretores de hospitais que vivem de propina. Um dos pontos mais interessantes é que quem deu o primeiro passo na investigação foi um jornalista do jornal Gazeta Sporturilor, especializado em cobrir esportes.

Um documentário direto e certeiro, Collective narra uma situação aparentemente simples que revela uma profunda crise política, enraizada na história do país ao longo do século XX, tão bem representada nos filmes do já citado Radu Jude. Desde a força fascista durante a segunda guerra e a ditadura comunista que se sucedeu, o país ainda é marcado pelas estruturas totalitárias que, por baixo dos panos, agem diretamente nas vidas de pessoas cidadãs comuns. O cinema como denúncia e crítica, aproximando histórias e instigando revoltas necessárias, ainda mais em países onde não há final feliz e sim um processo em andamento.

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