Cinco anos depois dos eventos do primeiro filme, Como Treinar o Seu Dragão 2 dá um salto não apenas temporal, mas emocional e narrativo. Dean DeBlois, agora dirigindo sozinho, evita repetir a fórmula do sucesso anterior e escolhe um caminho mais ambicioso, ampliando o mundo de Berk e aprofundando seus personagens. É uma continuação que respeita o amadurecimento do público e do próprio protagonista, Soluço, que já não é mais apenas o garoto curioso, mas alguém em busca de seu lugar como líder e como homem.
O que mais impressiona aqui é a coragem de lidar com temas mais pesados sem perder o encanto da fantasia. A presença do vilão Drago Bludvist introduz a noção de guerra real e seus impactos, ao passo que o reencontro de Soluço com sua mãe Valka oferece uma nova perspectiva sobre família e ideais. A leveza da amizade entre dragões e humanos ainda existe, mas agora é acompanhada de uma crescente sensação de urgência e risco, tornando a narrativa mais complexa e envolvente.
O amadurecimento do protagonista acompanha o tom mais sério da trama. Soluço é forçado a tomar decisões difíceis, a lidar com perdas e, principalmente, a compreender o que significa liderar. A transição da juventude para a maturidade é tratada com sensibilidade, e Jay Baruchel continua dando voz ao personagem com um equilíbrio de vulnerabilidade e bravura. Astrid, interpretada por America Ferrera, também ganha mais peso como aliada e apoio emocional, ainda que sua participação pudesse ser mais substancial.
Visualmente, Como Treinar o Seu Dragão 2 mantém o alto padrão da franquia, ainda que sem os mesmos momentos de deslumbre do primeiro filme. A diversidade dos dragões, o cuidado com os cenários e o uso eficaz do 3D compõem um universo coeso e vibrante. O destaque vai para o imponente dragão Alpha, uma presença que evoca criaturas titânicas de filmes como Godzilla, conferindo à história uma escala épica.
A trilha sonora de John Powell, mais uma vez, contribui para a emoção da jornada. Com temas já conhecidos e novas composições que acompanham os picos de ação e os momentos mais tocantes, ela é parte essencial da experiência cinematográfica. Em um filme que fala tanto de vínculos — entre pais e filhos, entre amigos, entre espécies —, a música ajuda a traduzir o que muitas vezes não é dito em palavras.
Mesmo sem reinventar o gênero, Como Treinar o Seu Dragão 2 se destaca pela integridade com que dá continuidade à sua história. É um raro exemplo de sequência animada que entende que seus personagens e seu público cresceram. A ousadia de assumir riscos dramáticos faz com que o filme se diferencie positivamente de tantas continuações genéricas, provando que franquias podem, sim, evoluir com elegância.
Com doses equilibradas de aventura, emoção e significado, o filme reafirma o poder do cinema de animação quando este se compromete com mais do que apenas entreter. Assim como O Rei Leão ou Toy Story 2, esta é uma continuação que tem algo a dizer — e que diz muito bem.