“Conduzindo Miss Daisy” é, em sua essência, um filme sobre amizade e camaradagem. Embora possa ser visto como um filme que aborda questões sérias (como o racismo e o anti-semitismo no Sul dos Estados Unidos durante meados do século XX), é um trabalho preciso de direção por Bruce Beresford e de Alfred Uhry no roteiro (que, por sua vez, é baseado em sua própria peça).
A química evidente entre Morgan Freeman e Jessica Tandy não é apenas importante para o filme, é a alma dele. A maneira crível como ambos se relacionam – ao longo de 25 anos, com empecílio como a cor de pele, a classe e um racismo institucional que um vê e o outro não – torna “Conduzindo Miss Daisy” emocionalmente rico sem seguir por um caminho manipulador.
O filme começa em 1948. Daisy Werthan (Tandy) é uma idosa judia de classe média alta que vive uma vida confortável em um bairro da Geórgia. Um dia, ao sair com o carro, ela confunde o acelerador com o freio. Após esse incidente, ela se torna inapta para o seguro e seu filho decide contratar um motorista. Ele escolhe Hoke Colburn (Freeman), um homem negro cerca de uma década mais novo que sua mãe. Embora Daisy seja inicialmente hostil à ideia, ela acaba cedendo. No início, ela trata Hoke com desdém, mas, com o passar dos anos, as barreiras entre eles gradualmente vão caindo.
Daisy e Hoke estão separados não apenas por raça, mas também por religião, classe e personalidade. Sua dinâmica não é tão diferente daquela que vemos em outros filmes do gênero, onde as relações entre proprietários e empregados podem ser calorosas, mas são neutralizadas pelas convenções e decoro. Embora Daisy e Hoke realmente se importem um com o outro, só no final, é que as últimas barreiras entre eles desabam.
As atuações são sem dúvida o trunfo do filme. Tandy interpreta Daisy com perfeição. Mais importante ainda, ela fornece vislumbres da solidão sob a armadura impermeável da personagem. Freeman, por sua vez, interpreta o personagem sem esforço (em parte por tê-lo feito nos palcos).
Quando “Green Book – O Guia” ganhou o Oscar de Melhor Filme, várias comparações foram feitas entre ambos os filmes – afinal, eles são filmes de época ambientados no Sul dos EUA com uma relação entre um motorista e seu cliente com questões raciais que desenvolvem uma amizade improvável. As principais diferenças, no entanto, podem ser encontradas na intenção e na apresentação dos personagens. “Green Book” trata abertamente (e às vezes de maneira desajeitada) de questões racias; já “Conduzindo Miss Daisy”, embora não ignore o assunto, não o trata como ponto focal. Em segundo lugar, há mais nuances no relacionamento entre Daisy e Hoke do que entre os protagonistas de “Green Book”.
Sucesso de bilheteria incontestável, em parte por ganhar o Oscar de Melhor Filme, “Conduzindo Miss Daisy” pode ser creditado por apresentar a questão do racismo institucional de uma forma que não estava muito “em voga” para os espectadores de sua época. Com a amizade como pano de fundo, o longa acompanha a evolução das relações raciais e de classe durante uma era tumultuada.