Grande Hotel

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O pai dos elencos estelares faz de "Grande Hotel" um clássico e tanto

Grande Hotel tornou-se uma espécie de modelo para muitas produções que almejavam um Oscar. Ganhar uma menção da Academia começou a atrair prestígio em 1932. Grande Hotel, embora não seja um grande filme no sentido convencional, foi um dos primeiros filmes com elenco estelar a levar a estatueta. As ordens do estúdio eram simples: preencha o máximo possível de papéis com grandes estrelas e deixe o interesse do público fazer o resto. Funcionou. O filme foi popular entre os críticos, o público e a Academia. Estranhamente, para um filme com o elenco que tinha, ele não recebeu indicações nas categorias de atuação. Na verdade, ele ganhou o único Oscar ao qual foi indicado: Melhor Filme.

A história se passa dentro do Grande Hotel do título, o melhor estabelecimento de toda a Berlim entre as guerras mundiais. São cinco personagens principais: o Barão impecavelmente educado (John Barrymore, de Suprema Conquista), a dançarina temperamental Grusinskaya (Greta Garbo, de Ninotchka), a estenógrafa Flaemmchen (Joan Crawford, de O que Terá Acontecido a Baby Jane?), o tirano corporativo Preysing (Wallace Beery, de Jantar às Oito) e o doente Otto Kringelein (Lionel Barrymore, de A Felicidade Não se Compra).

A narrativa se desenvolve a partir da interação entre os vários personagens. O Barão, apesar de exalar um ar de sofisticação, está falido. Para pagar suas dívidas, ele fez um acordo com alguns gangsters para roubar joias, mas não consegue. Ele se apaixona pela triste e solitária Grusinskaya, cuja depressão está destruindo sua carreira. A promessa de amor e apoio do Barão permite que ela se redescubra e reencontre seu talento. Flaemmchen, a estenógrafa que trabalha para a Preysing, sente-se atraída pelo Barão. Ela, como ele, precisa de dinheiro e, para consegui-lo, se prostitui com a Preysing, cuja fortuna financeira depende do sucesso de uma fusão empresarial. Finalmente, Kringelein é um indivíduo inofensivo que, convencido de que está sofrendo de uma doença terminal, sacou todas as suas economias do banco e está gastando muito para dar a si mesmo uma grande despedida. O Barão mostra gentileza com Kringelein e o apresenta a Flaemmchen – um ato que será propício para ambos.

Embora Grande Hotel seja baseado em um romance de Vicki Baum, que o escreveu com base em suas experiências de trabalho em um hotel alemão no final dos anos 20, ele chegou às telas por ter sido adaptado anteriormente aos palcos. As raízes teatrais do filme são nítidas. É um filme de um cenário só. É certo que é um cenário luxuoso – o lobby do hotel é incrível – mas a ação se limita a algumas áreas. E isso é ótimo, Grande Hotel é sobre personagens e suas interações, sobre reconhecer que quase todo mundo tem um segredo e descobrir quais são esses segredos.

É uma experiência que funciona muito bem até hoje, principalmente pelo seu elenco invejável. Em termos de elenco de peso, como em Grande Hotel, talvez apenas a refilmagem de 11 Homens e um Segredo se compare, em seu tempo.

John Barrymore estava no meio de uma carreira longa e produtiva – que se estendeu entre meados da adolescência e o início da década de 1940 – quando estrelou o filme. Pouco depois de fazer este filme, no entanto, a carreira de Barrymore começou um lento declínio, resultado de sua luta contra a bebida. Ele nunca ganhou o Oscar, nem foi indicado para um, mas é considerado o melhor membro da família Barrymore como ator.

O irmão de Barrymore, Lionel, teve uma carreira mais longa e diversificada do que seu irmão mais novo. Ele ganhou o Oscar em 1931 por Uma Alma Livre, mas seu legado vem de dois papéis que interpretou mais tarde na vida. Em 1946 ele apareceu como o vilão, Sr. Potter, em A Felicidade Não se Compra. E dois anos depois, ele seria James Temple no clássico de Humphrey Bogart, Paixões em Fúria. Ele e seu irmão dividiram as telas sete vezes. Sua atuação em Grande Hotel é interessante. Ele é tão convincente sendo respeitoso quanto está sendo desagradável e mesquinho em A Felicidade Não se Compra.

Greta Garbo, uma das atrizes mais atraentes, reclusas e misteriosas de Hollywood da era do cinema mudo, pronunciou em Grande Hotel o que muitos consideram seu mantra: “Eu quero ficar sozinha”. Garbo fez vários filmes na Suécia, sua terra natal, antes de ir para Hollywood em meados dos anos 20. Ela se tornou uma grande estrela e, quando fez seu primeiro filme falado (Mata Hari) em 1931, o marketing era: “Garbo fala!”. Ela foi indicada quatro vezes para o Oscar, mas nunca ganhou. Ela se aposentou como atriz e entrou em reclusão em 1941 (o mesmo ano que John Barrymore fez seu último filme). Seu papel era para ser pequeno em Grande Hotel, mas, por causa do seu grande nome e sua química com Barrymore, o papel cresceu para dar a ela mais tempo de tela.

Já Joan Crawford, na época de Grande Hotel, tinha apenas 27 anos e estava longe de se tornar a caricatura de um monstro que Bette Davis a transformaria. Em 1932, a carreira de Crawford havia alcançado o estrelato, embora seus papéis mais lembrados ainda estivessem por vir. Suas indicações ao Oscar chegaram em 1946 (por Alma em Suplício, que ela venceu), 1948 (Fogueira de Paixão) e 1953 (Precipícios d’Alma). Aqui, Crawford supera Garbo e seu papel chama até mais atenção que o da musa do cinema mudo. A natureza da sua personagem – uma garota trabalhadora que estava disposta a dormir com um homem por um trabalho e um quarto em um hotel caro (lembre-se – Grande Hotel foi feito durante a Grande Depressão) – resultou na censura de algumas de suas cenas.

Para o diretor Edmund Goulding (Vitória Amarga), o maior desafio não foi nem contar a história de Grande Hotel, mas sim, apaziguar o ego de suas estrelas. Crawford e Garbo exigiam tratamento especial. Há rumores de que cenas adicionais foram filmadas com Garbo porque ela estava infeliz por ter menos tempo de tela do que Crawford. Não há nada de especial em como ele monta o filme, embora sua decisão de começá-lo com cada personagem fazendo uma ligação telefônica seja uma maneira inteligente de fornecer informações básicas sobre o cenário e os indivíduos, logo de cara.

Quase 90 anos após seu lançamento, Grande Hotel continua notável principalmente por seu elenco. Na época em que foi lançado, representava a opulência de um título e como isso fazia com que alguém ansiasse por passar uma noite em um lugar como o Grande Hotel, embora não necessariamente com pessoas como os personagens do filme. O longa funcionava como uma válvula de escape das duras realidades do dia-a-dia durante a Grande Depressão. Para os espectadores de hoje, o filme continua funcionando bem, vai além da curiosidade, e é divertido o suficiente. É um ganhador que envelheceu bem e não é tão datado como, por exemplo, Cimarron.

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