Crash – No Limite

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Em "Crash - No Limite", assim como na vida real, onde quer que existam diferenças culturais, há espaço para tensão

Filmes com muitas histórias podem ser desafiadores, mas alguns cineastas aceitam o desafio e seus resultados podem ser recompensadores para eles e para o público. “Crash – No Limite” é um destes filmes. Muitos personagens estão entrelaçados, na estreia de Paul Haggis na direção.

A história acontece em Los Angeles, onde a hostilidade costuma ser uma barreira à intimidade, e o ódio e o medo ofuscam o julgamento. Don Cheadle interpreta Graham Waters, um detetive de polícia que investiga o que pode ser um assassinato racial. Graham está tendo um caso com sua parceira latina (Jennifer Esposito), a quem ele se refere como uma “mulher branca e mexicana”. Matt Dillon é um oficial da polícia, Jack Ryan, um veterano cujas ações muitas vezes ultrapassam os limites. Quando ele apalpa uma mulher (Thandie Newton) durante uma parada rotineira no trânsito, seu parceiro (Ryan Phillippe) quer romper o relacionamento profissional. Enquanto isso, o promotor, Rick Cameron (Brendan Fraser), e sua esposa, Jean (Sandra Bullock), tornam-se vítimas de um crime quando seu carro é roubado por dois ladrões (Chris “Ludacris” Bridges e Larenz Tate).

Os melhores filmes desse tipo, com muitas histórias, são aqueles em que os personagens têm a oportunidade de respirar (“Magnólia” e “Nashville” são bons exemplos). Em “Crash” não dá tempo sequer pros seus personagens começarem a inspirar. Mas isso não é um problema.

A força de “Crash” é que ele trata de forma inteligente assuntos extremamente sérios e atuais. O racismo é uma questão polêmica, mas Haggis consegue abordá-lo de uma maneira acessível. Não sentimos que estamos sendo doutrinados, nem que o filme prega algo de maneira hipócrita. As inúmeras histórias do filme estão ligadas por uma teia de coincidências. Poderia dar a sensação de que tantos artifícios não funcionariam. Porém, há um equilíbrio e uma simetria na forma como as histórias dos personagens se conectam.

O diretor reúne um elenco grandioso. O grupo, por si só, era garantia que o filme seria visto. Todos estão perfeitos em seus papéis e cada um faz seu melhor para melhorar a dimensionalidade dos personagens conforme são aprofundados no roteiro. A cena mais poderosa de “Crash – No Limite” mostra Dillon e Newton enfrentando a desconfiança entre elas quando estão à beira da mortalidade.

O tema principal é o racismo, e como, muitas vezes ele pode ser resultado do condicionamento social e da raiva mas também do ódio e da intolerância. Além da habitual manifestação de discriminação entre brancos e negros, somos confrontados racismo de negros contra latinos, latinos contra asiáticos, brancos contra o árabes, entre outras variações.

Em “Crash”, assim como na vida real, onde quer que existam diferenças culturais, há espaço para tensão. No entanto, ao retratar personagens intolerantes como indivíduos, por vezes, atenciosos, o filme nos pede que consideremos as causas do racismo tanto quanto os seus efeitos. Ao fazer isso, ele se diferencia, pelo menos até certo ponto, de outros filmes semelhantes. “Crash – No Limite” faz com que você pense, mesmo que seja apenas em resposta ao que você vê no filme.

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