Doris, Redescobrindo o Amor

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Autoajuda. É uma palavra que, normalmente, quem busca por ela poderia encontrar o sinônimo “desesperado”. Isso não significa que não há valor nos inúmeros romances e trabalhos publicados sobre o assunto, apenas significa que quem busca por autoajuda normalmente está com um único fio de esperança ao topar com um livro intitulado “Como Estar Vivo”, por exemplo.
Doris sabe. A protagonista da comédia dramática Doris, Redescobrindo o Amor está presa no fundo de um aquário há anos. Ela é a funcionária mais velha em um moderno escritório, e lá se esconde em seu cubículo, atrás de uma barricada de desordem, parindo planilhas de contabilidade em silêncio enquanto seus colegas de trabalho riem a suas costas e custas.
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Ela é completamente reconhecível. Cada escritório possui uma Doris – uma mulher que ninguém realmente conhece, mas que todos suspeitam que tem uma casa cheia de gatos e uma assinatura da revista Seleções. Conhecida popular e pejorativamente como solteirona, velha, um objeto de piedade beirando o ridículo. Mas o filme de Michael Showalter (que também dirigiu um episódio de Grace & Frankie) faz uma festa com a personagem e consegue fugir desse estereótipo feminino datado e impreciso.
Doris, Redescobrindo o Amor se torna uma afirmação para as mulheres na menopausa que sonham com um romance tórrido. E isso se faz com um bom gosto extremo, graças à doce mistura de comédia e drama que Sally Field entrega em sua atuação. Doris não é realmente ciente de quão limitada a sua vida se tornou, porque ela está perdida na rotina do dia a dia. Mais importante, ela negou seus próprios sentimentos e necessidades por um longo tempo, fazendo com que já não sinta nada, exceto uma leve sensação de vazio que ela prontamente preenche com o lixo que acumula da rua.
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É só quando ela interioriza as ideias do guru de autoajuda interpretado por Peter Gallagher que Doris se concede a permissão para sonhar (e nos levar junto na jornada). Ela começa a fantasiar de diversas maneiras com John, novo executivo criativo que chega ao seu trabalho vindo de Los Angeles. John é jovem, belo e gentil. Mas também tem uma namorada, e deve sofrer de complexo de édipo, já que os desejos românticos de Doris (tão claros para o público) nem sequer são registrados em seu radar.
A coisa toda é cheia de emoções muito bem delineadas e evitam o constrangimento e a estranheza que algumas cenas poderiam causar graças ao elenco inspirado e ao roteiro de Showalter e Laura Teruso.
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Doris é uma personagem completamente desenvolvida e crível. Ela tem pontos fortes, pontos fracos e tendências neuróticas, então quando vamos conhecendo o mundo ao seu redor, e ela se resolve com ele, entendemos muito do seu passado. Isso faz uma grande diferença, pois suaviza as cenas absurdas e faz de Doris um ser identificável, mesmo que ela esteja usando um colete amarelo e uma viseira de neon em uma balada underground de Nova York.
Showalter extrai de Field momentos de catarse dramática (mesmo que ela esteja em uma roupa que beira o clown), mas são os ataques sutis de comédia que realmente provam o talento inigualável da atriz. Ela leva uma cena do riso ao choro em um piscar de olhos, sem te esbofetear, porque ela sempre carrega a alma da personagem.
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Doris se sente viva e repleta de um amor nunca expressado. Seu objetivo é nobre e, por isso mesmo, o cenário extrai tantos risos, mesmo com o roteiro esbarrando em diversos clichês. Mas tudo bem, porque estamos tão cheios de empatia pelos personagens que nem percebemos esses esbarrões.
Nota:

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