Gandhi

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“Gandhi” representa um daqueles vencedores do Oscar que envelheceu bem

Para muitos, Richard Attenborough pode ser mais conhecido como o John Hammond de Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros. E, embora a maior parte da carreira de Attenborough tenha sido como ator, ele começou a se aventurar como diretor a partir da década de 1960 e, até 2007 (quando se aposentou), esteve por trás das câmeras em alguns filmes de qualidade variável. Gandhi, de 1982, é seu trabalho mais lembrado como diretor, um magnífico épico digno de David Lean (que quase foi o diretor do filme).

Com sua inchada duração de 3h10, Gandhi exige um certo comprometimento para ser assistido hoje em dia. Embora tenha alguns problemas de ritmo (especialmente durante os últimos minutos), não é uma experiência pouco gratificante. Attenborough, que gostava de biografias (ele também fez filmes sobre Winston Churchill, Charlie Chaplin, C.S. Lewis e Ernest Hemingway), está em seu melhor.

Alguns historiadores argumentaram que Gandhi é uma biografia elogiosa demais, mas, mesmo que o filme apresente a figura do título sob uma luz muito favorável, compensa quaisquer imprecisões factuais com a profundidade e o poder de sua caracterização. A direção de Attenborough, em conjunto com o roteiro de John Briley e a atuação titânica de Ben Kingsley, criam um dos personagens cinematográficos mais reconhecidos do século XX a partir de uma pessoa da vida real. Está no mesmo nível do Patton, de George C. Scott.

A maior parte do filme acontece em flashback. A primeira cena, que acontece em 1948, mostra o assassinato de um idoso Mahatma Gandhi (Kingsley) após suas orações. O filme muda continuamente a partir daí – da África do Sul de 1893, onde Gandhi, com 23 anos, inicia sua vida de protestos não violentos, fazendo campanha pela igualdade de direitos para os indianos no país. Depois de alcançar o sucesso (embora não antes de vários contratempos), ele retorna ao seu país natal, a Índia, onde se junta às fileiras daqueles que lutam pela independência do Império Britânico. Apesar de ser hindu, Gandhi está mais do que disposto a trabalhar com muçulmanos, cristãos e judeus. Ele é convicto de que alcançará seus objetivos sem violência.

A luta pela independência da Índia, à qual Gandhi se junta durante a Primeira Guerra Mundial, é desigual e muitas vezes desagradável. Embora Gandhi rejeite a violência, ela é frequentemente usada contra os manifestantes, principalmente no massacre de Jallianwala Bagh, em 1919, quando as forças britânicas abriram fogo contra civis desarmados, matando pelo menos 400 e ferindo mais de 1000.

Entre 1915 e o fim da Segunda Guerra Mundial, quando é concedida a independência da Índia, Gandhi alcança um status quase legendário tanto entre os nativos como entre os colonizadores. Ele passa muito tempo na prisão, mas nunca reclama. Alcançar a independência não encerra seus esforços. O país está dividido em duas regiões – Índia e Paquistão – baseadas na sua religião. Gandhi se opõe a essa divisão. As tensões entre muçulmanos e hindus resultam em violência generalizada. Isto, por sua vez, leva Gandhi a iniciar uma greve de fome que não termina até que os confrontos diminuam. Não muito tempo depois, o filme chega ao seu começo, ou melhor, ao seu final.

Gandhi representou um ponto de virada na carreira de Ben Kingsley. Antes de ganhar o Oscar, ele era mais conhecido por seu trabalho no teatro. Attenborough o escalou porque ele se encaixava no perfil de um ator de língua inglesa descendente de indianos (O nome de nascimento de Kingsley era Krishna Pandit Bhanji). A força de sua atuação, não apenas personifica o personagem, mas gera fascinação por si só, e abriu portas que o fariam interpretar uma variedade de papéis até hoje. Ele está entre os atores mais respeitados e reconhecidos do mundo.

A abordagem de Attenborough é épica em todos os sentidos da palavra. A narrativa acompanha mais de meio século, mas não tem a sensação de “melhores momentos” que prejudica a maioria das produções biográficas. Attenborough sabe como focar nos principais incidentes e depois seguir com a trama sem fazer a narrativa parecer desconexa ou descontínua. A cinematografia é exuberante sem ser muito romântica e a trilha sonora de Ravi Shankar dá um autêntico sabor indiano ao longa.

Gandhi representa um daqueles vencedores do Oscar que envelheceu bem. Três de seus concorrentes – E.T. – O Extraterrestre, O Veredicto e Tootsie – também continuam bem hoje, mas, Gandhi parece ainda melhor. A história fala de um homem extraordinário que não só inspirou Martin Luther King e outros líderes dos direitos civis durante as décadas de 1960 e 1970, mas cujas palavras ressoam até hoje.

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