Guerra Civil

Onde assistir
Habitantes dos cantos devastados da internet, sejam muito bem-vindos a mais uma crítica aqui no @quadroporquadro

Atravessando uma América devastada, uma equipe de jornalistas corre contra o tempo para chegar à Casa Branca e obter a matéria de suas vidas, mas, ao longo do caminho experimentam o horror da guerra em primeira mão.

Em um futuro distópico, os Estados Unidos da América enfrenta uma dura guerra civil, em que de um lado está um governo autoritário sedento por poder, representado por uma figura em seu terceiro mandato presidencial, e do outro lado os movimentos separatistas, representados pelas Forças Ocidentais (“WF” ou Western Forces no original). E em meio a toda essa decadência está a renomada fotógrafa de guerra Lee Smith e seu parceiro Joel, que decidem atravessar o país em busca da matéria de suas vidas, cobrir na Casa Branca em primeira mão a derrocada do atual presidente pelas forças opositoras. De última hora Lee e Joel ganham dois acompanhantes, Sammy um jornalista veterano conhecido da dupla, – que pretende ir até Charlottesville onde a WF está acampada – e a jovem Jesse, uma aspirante a fotógrafa que fora salva por Lee, de um atentado a bomba no dia anterior.

No coração dos homens.

Ao longo da viagem a história nos mostra vários recortes, várias “Américas”, como as pessoas se juntam ou se separam para lidar com a nova realidade que recai sobre elas. Grupos paramilitares fazendo “justiça” com as próprias mãos, atiradores solitários, cidades destruídas juntando os pedaços, cidades sitiadas tentando manter a aparência de normalidade, e inclusive comunidades se unindo para superarem juntas os horrores da guerra.

No entanto Guerra Civil é muito sobre o pior lado da humanidade, sobre o mal dentro de si mesmo, o monstro que se devidamente alimentado supera até mesmo o melhor dos homens, o egocentrismo no seu auge.

Algo básico de se notar é a da triste realidade de tantas pessoas ao redor do mundo ao longo da existência, agora pintada no país que mais representa a liberdade no ocidente. Americanos experimentando o horror da guerra em sua própria casa, lutando entre si, matando seus pares em busca de seus propósitos sombrios.

A teoria da personalidade de Freud e os arquétipos de Jung de certa maneira se fazem presentes, dada as devidas proporções e interpretações, muitas vezes quase pulando para fora da tela.

Temos três personagens principais que praticamente personificam o Id, Ego e Superego, e em diversos momentos eles afloram personas diferentes que complementam suas ações ao longo do caminho. De certa maneira, não existem heróis em Guerra Civil, já que todos alí estão em busca de seus próprios interesses não importando a destruição que irão deixar pelo caminho, contanto que consigam o que almejam, a morte de quem quer que seja torna-se apenas uma vírgula.

Ainda que um dos personagens busque certa redenção à medida que vai se auto avaliando, tentando se reconectar com sua humanidade, um outro demônio nasce e se alimenta da destruição.

A voracidade de se alcançar aquilo que se deseja, a adrenalina da luta, e a paixão pela conquista.

Toda maldade do mundo nasce do coração do homem, e em Guerra Civil podemos vivenciar desde a maldade mais inocente até a mais ignorante, da mais estruturada até a mais patológica.

Lee Smith (Kirsten Dunst) é uma fotojornalista veterana, que já trabalhou registrando diversos conflitos e guerras ao redor do mundo, e que aqui lidera a equipe em sua jornada. O ponto principal aqui é que ela vai se re-descobrindo ao longo da viagem, fazendo uma autoanálise em meio à sua luta para se manter firme em meio aos horrores da guerra, e uma crise de identidade.

Joel (Wagner Moura) é um jornalista louco pela ação e adrenalina que a guerra proporciona, parceiro de Lee Smith, é em alguns momentos um alívio cômico, seja para a equipe, quanto para o espectador. O ponto principal é de que ele é o motivador, aquele insiste e direciona os personagens e os mantém dentro do plano.

Jesse (Cailee Spaeny) é a fotógrafa novata que cria sua entrada na equipe, é de certa maneira incentivada por Joel e mentorada por Smith. A medida em que Lee vai perdendo o foco na missão e gradativamente se afastando da profissional que costumava ser, Jesse vai vorazmente se transformando na imagem que tem de sua heroína.

Fazendo jus aos personagens principais, fotojornalistas, a direção e fotografia de Guerra Civil são sensacionais, até magistral em alguns momentos, percebe-se a liberdade que tiveram para demonstrar toda qualidade e categoria que possuem.

Eu tive a oportunidade de assistir a essa obra no IMAX, o que tornou a experiência ainda mais interessante e imersiva, por isso deixo a dica para quem puder. Uma obra inquietante e pesada, que fará o espectador grudar na poltrona, e também refletir muito sobre o tema proposto.

Faça como o Quadro por Quadro e assista a esse filme nos cinemas!

Você também pode gostar...