Em Jezebel, Bette Davis entrega uma das performances mais icônicas de sua carreira ao dar vida à impetuosa Julie Marsden, uma jovem aristocrata de Nova Orleans que vê sua vida transformada pela própria arrogância e teimosia. Determinada a desafiar convenções, Julie escolhe usar um ousado vestido vermelho no tradicional baile Olympus, um evento de grande importância social onde as mulheres solteiras da alta sociedade vestem-se de branco. Essa decisão audaciosa, feita com a intenção de provocar ciúmes em seu noivo, Pres Dillard, acaba causando consequências irreparáveis para o casal.
O figurino vermelho de Julie não apenas marca o rompimento de seu noivado, mas também simboliza sua natureza indomável e seu desdém pelas normas sociais. Pres, seu noivo, se recusa a ceder à manipulação e força Julie a encarar a repercussão de sua escolha, obrigando-a a dançar com ele em um momento de humilhação pública. Ao abandonar Julie, Pres embarca para o Norte, deixando-a desolada e convencida de que ele um dia retornará para ela. Esse embate entre os dois personagens cria um clima intenso e emocional durante todo o filme.
O desempenho de Davis é magnético, transformando Julie em uma figura ao mesmo tempo encantadora e trágica, cuja arrogância e impulsividade fazem dela uma heroína marcante e complexa. É nesse papel que Davis solidifica a figura da “Southern Belle” no cinema, personificando uma mulher cujo orgulho e desejo de controle sobre os homens à sua volta são tanto sua força quanto sua ruína. Ao lado de Bette Davis, Henry Fonda interpreta Pres Dillard, o homem que, apesar do amor por Julie, é incapaz de ignorar suas falhas e decide construir uma nova vida no Norte.
A direção de William Wyler ressalta o dilema de Julie ao explorar os contrastes entre sua aparência sofisticada e sua postura obstinada e manipuladora. A narrativa envolve o espectador no dilema da protagonista, especialmente quando ela se depara com o retorno de Pres, agora casado com outra mulher. A súbita mudança de Julie, movida pelo desespero e pela solidão, é um ponto central que culmina em um dos momentos mais intensos do filme: sua decisão de cuidar de Pres durante uma epidemia de febre amarela, buscando a redenção por suas atitudes passadas.
No final, Jezebel emerge como uma obra envolvente sobre orgulho, paixão e arrependimento. A combinação de um roteiro bem estruturado, direção cuidadosa e atuações impactantes faz do filme um estudo notável do comportamento humano e das consequências das escolhas impulsivas. A personagem de Julie Marsden se torna, assim, uma das figuras femininas mais inesquecíveis do cinema clássico, deixando uma marca duradoura ao explorar os limites do amor e do arrependimento.