June e John é uma curiosa peça do cinema contemporâneo: um projeto pessoal de Luc Besson, filmado durante o lockdown da pandemia com um smartphone, e que aposta tudo em estilo e emoção, mas tropeça feio na substância. O longa, que evoca referências como Bonnie e Clyde, começa com uma proposta promissora, mas logo revela que por trás da embalagem moderna e do visual arrojado, há pouco a se agarrar.
O visual é, de fato, impressionante. Considerando que foi filmado com celulares e com uma equipe técnica enxuta, June e John surpreende pela qualidade das imagens e pela criatividade em compor planos dinâmicos. A primeira cena — John no topo de um prédio, com a cidade ao fundo — já entrega um domínio técnico raro em projetos independentes. Besson mostra que, tecnicamente, ainda é um diretor com visão, mesmo que essa visão esteja a serviço de um roteiro pouco inspirado.

E é exatamente o roteiro o maior problema aqui. A história de um homem preso na rotina que conhece uma mulher cheia de vida e se transforma através de uma paixão já foi contada centenas de vezes, mas June e John parece reciclar os piores clichês desse tipo de narrativa. John é o arquétipo do homem entediado, e June a musa maníaca definitiva, quase uma caricatura — impulsiva, inconsequente, sedutora e, claro, fatal.
O que poderia ser um estudo sensível sobre libertação emocional vira uma colagem de situações forçadas. June rouba, leva John para Las Vegas, diz que vai morrer em 72 horas… e tudo acontece sem que o espectador consiga acreditar ou se importar. O ritmo é frenético, mas não pela tensão ou emoção — é pela urgência de manter o espectador distraído do vazio do enredo. As frases de efeito só pioram as coisas, soando mais como slogans de comercial de perfume do que diálogos orgânicos.
Outro aspecto problemático é a visão que Besson ainda tem das personagens femininas. Em June e John, assim como em outros trabalhos dele, a mulher aparece como catalisadora da ação do homem, não como protagonista de sua própria jornada. A figura de June, por mais exuberante e livre que tente parecer, está presa a um molde ultrapassado: ela serve para sacudir o protagonista, encantá-lo, levá-lo ao êxtase e, claro, à perdição. Não há espaço real para que ela exista fora do olhar masculino.

Apesar de tudo, é difícil negar que há algo de fascinante no fracasso de June e John. Há um diretor tentando se reinventar, experimentando com tecnologia e produção alternativa, mas ainda preso a vícios de linguagem e visão de mundo que parecem datados. O filme seria uma aula interessante de cinema se fosse acompanhado de um bom debate crítico logo depois.
No fim, June e John é mais um experimento estilístico do que uma obra memorável. É como um clipe longo e bem filmado, cheio de boas intenções visuais, mas emocionalmente raso. O tipo de filme que será lembrado mais pelo modo como foi feito do que pelo que tem a dizer. E talvez, para Luc Besson, neste momento da carreira, isso já seja suficiente.




