Land

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Land marca a estreia da atriz Robin Wright na direção com um filme extremamente humano

A gente percebe a profundidade de um projeto quando o protagonista está envolvido também nos bastidores, mas nem sempre isso é sinônimo de um bom filme, principalmente quando há interferência do estúdio. Felizmente esse não é o caso de Land, novo filme com Robin Wright que também faz sua estreia na direção, além de produzir o longa. A atriz, que é mais conhecida por seus papeis em Forrest Gump, House of Cards e por eternizar a amazona Antíope nos filmes da Mulher-Maravilha, conseguiu inverter esse ciclo do ego em Hollywood da forma mais humana possível.

O filme conta a jornada de Edee, uma mulher que abandona a cidade grande e compra um chalé na montanha em busca de uma nova vida isolada das pessoas. Essa escolha vem carregada de pré-julgamentos já previstos no roteiro, que não tenta passar pano para a protagonista, mas explica pontualmente através de diálogos, muito bem encaixados, as perguntas que a gente faz na cabeça conforme o filme se desenrola. Afinal, porque uma mulher aparentemente bem sucedida abandonaria tudo? O que aconteceu de tão grave para ela tomar essa decisão? Esse é um sentimento que a gente expressa com muita facilidade, o famoso “quero sumir”, mas em Land, Edee leva isso a sério.

Em isolamento, as lembranças da protagonista mostradas em flashback aparecem como um lembrete de seu egoísmo destrutivo, assim como os vislumbres de sua imaginação que aprisionam seus sentimentos num luto que a gente pouco entende, mas percebe que é grave. Quando o inverno rigoroso se alastra, Edee admite: “isso não está funcionando”. Exposta ao frio e à desnutrição, ela acaba sendo encontrada pelo caçador Miguel, interpretado pelo brilhante Demián Bichir, que ao perceber como suas atitudes estão corroendo sua humanidade, faz questão de voltar de tempos em tempos para cuidar dela e ensiná-la a sobreviver num ambiente cheio de adversidades. É justamente ao tratar de um tema forte com tamanha humanidade e respeito pela dor do próximo, que a relação dos dois serve de apoio para suas perdas individuais e o que fica, é uma emoção plantada desde a cena de abertura que vai do desconhecido à revelação final de forma majestosa.

Sobreviver enquanto espera pela morte acompanhada da solidão, parece uma resposta plausível dada a descrença pelos seres humanos e suas atitudes inexplicáveis que nos atingem em efeito dominó. Nesse ponto é muito fácil se identificar com Edee e as motivações principais do filme, ainda mais num mundo que carrega o ódio nas pontas dos dedos e em ações extremistas que desencadeiam tantas consequências. Essa narrativa oculta é a o outro lado do filme que abre uma discussão amplamente política, social e moral num mundo que exige tanta coerência.

Land é ambicioso e emocional. Suas locações são belíssimas e melancólicas, o que ajuda não só no olhar naturalista da câmera, mas também na interpretação de Wright que faz um trabalho de atuação impecável usando seu peso como atriz em equilíbrio com o ritmo do filme, desprendido de vaidade e com uma delicadeza de olhares e expressões que enchem a tela mesmo quando não há nenhuma palavra sendo dita em cena.

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