Apesar de 1983 ter sido um ano fraco para o Oscar, é um tanto desconcertante que Laços de Ternura tenha superado filmes como Os Eleitos: Onde o Futuro Começa e Silkwood, Retrato de uma Coragem. Ele é uma grande novelona baseada no romance de Larry McMurtry. O filme manipula os sentimentos do público enquanto apresenta performances exageradas. Jack Nicholson ganhou o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por interpretar a si mesmo e Shirley MacLaine triunfou na categoria de Melhor Atriz principalmente porque ela havia sido ignorada muitas vezes para continuar sem levar o prêmio mais uma vez.
Laços de Ternura não é um entretenimento ruim. Como outros melodramas de Douglas Sirk, às vezes é engraçado e às vezes é comovente. Ele tenta provocar lágrimas e não há nada na abordagem do diretor James L. Brooks que sugira moderação. O ataque de gritos de MacLaine com uma enfermeira é um símbolo da abordagem da produção: barulhenta e irritante. A personagem da atriz, Aurora Greenway, é a personificação viva dessa filosofia. Pode-se argumentar que MacLaine merecia reconhecimento por fazer de Aurora um indivíduo tão desagradável.
A maior parte do filme se passa na década de 1970 e foca na relação de amor/ódio entre uma mãe e sua filha, Emma (Debra Winger). Aurora (a mãe) é uma mulher dominadora com uma personalidade grandiosa que prefere não ir ao casamento de sua filha com um professor universitário, Flap Horton (Jeff Daniels), do que parecer dar sua benção participando. Emma e Flap não têm o casamento mais feliz, mas ela prefere ficar com ele do que dar à mãe a satisfação de terminar a união. O sexo, pelo menos, é bom – eles têm três filhos – mas não tão bom que os impeça de procurá-lo em outro lugar. Flap tem vários casos, e Emma fica com um banqueiro bem-educado chamado Sam Burns (John Lithgow). Sempre uma esposa obediente, no entanto, Emma pega a família e segue Flap enquanto ele ocupa cargos universitários no Texas, Des Moines e Nebraska.
Enquanto isso, de volta ao Texas, Aurora afasta vários pretendentes, incluindo o diminuto mas persistente Vernon Dahlart (Danny DeVito). Faíscas acontecem quando ela está com seu vizinho, o astronauta mulherengo e alcoólatra, Garrett Breedlove (Nicholson), que constrói uma relação com Aurora. Embora ela admita que o ama, ele decreta que não é o homem certo para ela, mesmo ainda dando as caras no final. O final proporciona uma espécie de reconciliação entre Aurora e Emma.
O filme é uma espécie de colagem de cenas da vida. Muitas delas, consideradas individualmente, são eficazes para delinear a relação Aurora/Emma (ou, em menor grau, Aurora/Garrett e/ou Emma/Flap) e apresentam aos atores oportunidades de brilhar, ainda que brevemente. Infelizmente, o tecido que compõe a trama é fino e os frequentes saltos no tempo o rasgam com facilidade para desorientar o espectador. Personagens como Vernon e Patsy, a amiga de Emma) são frustrantemente semi-desenvolvidos e as mudanças na forma como Emma e Aurora interagem frequentemente mudam, quase sem nenhum motivo, entre as cenas.
Treze anos depois foi lançada uma sequência, O Entardecer de uma Estrela. Lidando principalmente com o relacionamento de Aurora com seus netos e governanta, trouxe de volta MacLaine no papel principal (e Jack Nicholson em uma participação especial) mas não conseguiu arrebatar os críticos. O filme é frequentemente citado como uma das piores sequências de todos os tempos.
Fui muito malvado com Laços de Ternura? Como algo descartável lançado nos anos 1980, é uma maneira aceitável de passar um tempo (por mais desatualizado que o filme seja). É divertido e, embora manipulador ao extremo, muitas vezes é eficaz. Mas rotulá-lo como o Melhor Filme de 1983 (ou de qualquer ano) é uma quase aberração da história da Academia.