Mais Pesado é o Céu

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"Mais Pesado é o Céu": Uma jornada de redescoberta e resistência no sertão cearense

Quando peguei Mais Pesado é o Céu para assistir, de cara pensei em um filme totalmente diferente, um drama familiar. Eu realmente não estava preparada para o que o longa, com direção de Petrus Cariry, iria entregar.

Logo no começo do filme conhecemos Antônio (Matheus Nachtergaele) e logo descobrimos que ele está retornando para sua terra natal, depois de uma estada infrutífera em São Paulo (como o filme foi gravado em 2021, mesmo que não de forma declarada, o filme retrata essa época de pandemia). Na verdade, ele volta para a região onde nasceu, pois a cidade está coberta pelas águas de uma represa.

Em paralelo conhecemos Teresa (Ana Luiza Rios), que já está às margens da represa, admirando a cidade submersa, absorta em seus pensamentos. E é o choro de um bebê, vindo de dentro de um barco encalhado, que tiram ela desse transe, que a devolvem à realidade, por pior que seja. Ela não tem dúvidas e resgata o bebê, e fica com ele no colo, parada em meio ao sertão, embaixo do sol, observando a água.

Quando Antônio a encontra, entende que o bebê é dela – e ela não nega. E o improvável casal com um improvável filho começa uma jornada ímpar em busca de comida e abrigo.

Foi uma experiência e tanto assistir a este filme, loucamente longe da minha realidade, mas ao mesmo tempo tão próximo. Isso porque apesar de se passar no sertão cearense, debaixo de um sol escaldante e com uma paisagem muito diferente daquela que conheço, o filme traz muitos temas universais e com os quais me relacionei muito, e imagino que todos que assistirem vão se relacionar. E o mais forte foi a solidão e a falta de perspectiva durante a pandemia. Isso foi palpável no filme, e trouxe à tona diversos sentimentos que eu tinha enterrado depois que as coisas começaram a normalizar no mundo.

E achei lindo como Teresa, cuja tristeza e solidão são disfarçadas pela força que a leva a fazer o que ela julga que tem que ser feito dia após dia, se redescobre, ou se reconstrói, após a maternidade. Não uma maternidade romantizada, pois a vida de Teresa piora consideravelmente depois que o bebê vem pra sua vida, pois agora ela se vê na obrigação de alimentar e cuidar daquele pequeno ser indefeso. Mas vemos que a vontade dela de viver aumenta conforme ela vai tomando mais gosto pela experiência. Apesar de às vezes ela desejar jogar tudo pro alto e sair correndo.

E Teresa pra mim é a protagonista. A história gira em torno de suas aventuras e desventuras. E Antônio está lá para apoiá-la, até o fim. Mas apenas isso.

Vale reforçar, se você ainda não está convencido de ver o filme, que ele figurou em dezenas de festivais nacionais e internacionais, conquistando prêmios, com destaque para sua participação no Festival de Cinema de Gramado, onde levou melhor direção, melhor fotografia e melhor montagem, além do Prêmio Especial do Júri para Ana Luiza Rios. Não que premiações digam muita coisa sobre um filme, mas quero provar meu ponto aqui, pronto.

Bora então pro cinema prestigiar este filme brasileiro primoroso. Não esqueça os lencinhos, compra pipoca grande de chocolate e boa sessão.

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