Habitantes dos cantos escuros da internet…
…vamos construir uma amizade?
May é uma jovem traumatizada, devido a um problema oftalmológico que sempre dificultou seu contato com os demais, principalmente quando criança. Agora, decidida a se conectar com as pessoas, ela acaba envolvida em uma trama sinistra.
Devido a uma infância traumática e sem amigos, May tem uma vida adulta bastante solitária, dividida intimamente apenas com a sua melhor amiga, a boneca Suzie, que ganhou de sua mãe, com a condição de nunca tirar ela de sua caixa de vidro.
Inicialmente May é uma pessoa boa, esforçada, com habilidades como costura, e hobby como ler sobre anatomia, mas que vai se transformando em alguém que nem mesmo ela esperava. Seria isso algo que já estava dentro dela o tempo todo, fruto de uma vida repleta de frustrações, ou um ambiente social doente que sempre a excluiu?
May: Obsessão Assassina é um prato cheio para quem gosta de analisar histórias sob uma ótica psicológica, já que apresenta várias características que nos levam a essa conclusão, como os comportamentos e história de vida da May, a representatividade de cada personagem, e finalmente, a personalidade obsessiva, compulsiva e assassina da protagonista.
Na infância, May é retratada com “Olho Preguiçoso”, ou “Ambliopia”, o que inicia o seu distanciamento das outras pessoas, devido ao bullying, e também pela a inabilidade de seus pais em saber lidar direito com a situação, já que sua mãe a faz usar um “tapa olho” praticamente o tempo todo, tornando-a uma menina “esquisita”.
Novamente seus pais, percebendo que sua menina não consegue se relacionar com ninguém, dão a ela uma boneca de porcelana (e vocês devem saber como essas bonecas são sinistras), com a condição de nunca tirar ela de sua caixa de vidro – caixa essa que por fim simboliza uma redoma que exclui essa personagem do resto mundo, muito parecida com a dificuldade que a May tem em sua própria vida – e assim, Suzie, se torna a sua melhor amiga, e seu exemplo de companhia ideal, e digamos, de perfeição.
Em sua vida adulta, May continua seu “relacionamento” duradouro com Suzie, sua mais antiga, e única companheira de vida, já que apesar de ter uma vida independente, morando sem os pais e tendo seu emprego (Trabalha em um Hospital Veterinário), a protagonista ainda não consegue se conectar com ninguém, nem mesmo manter uma relação mais próxima com as pessoas do seu trabalho, o que a deixa muito infeliz, pois, ela almeja não somente novas amizades, mas, também viver um grande e verdadeiro amor.
Apesar de toda a profundidade e camadas mais maduras da obra, “May” tem uma roupagem muitas vezes cômica, voltada ao humor negro, suspendendo um pouco do “coração partido” do espectador – a personagem principal é bastante relacionável, fazendo com que sintamos a dor de sua solidão – dando uma aliviada na tensão, infelizmente, as vezes, quebrando demais essa construção.
É em busca dessa conexão amorosa que May tenta superar suas barreiras emocionais, comportamentais e comunicativas, procurando conhecer uma pessoa que seja tão perfeita quanto Suzie, porém, insistentemente se decepcionando.
“Sabe quando você conhece alguém, e acha que gosta dela, mas, ao longo da conversa você percebe partes que não gosta?”
Ao longo do crescimento da personagem, aumentam também suas frustrações, o que acaba levando ao seu maior trauma, quando ela pensa ter encontrado a pessoa perfeita, e se dá conta de que tal coisa não existe, e inevitavelmente, ao seu surto mental e sua decisão final, – aliada a sua habilidade com costura e seu conhecimento sobre anatomia – construir a pessoa perfeita.
Aí é quando Carrie a Estranha encontra Frankenstein e o “inferno todo se liberta”.
Uma curiosidade sobre a atriz protagonista, Angela Bettis, é que em 2006 ela dirigiu a que é considerada a versão masculina de May, chamada Roman, inclusive contando com Lucky McKee, dessa vez sendo o protagonista, e não o diretor.
O filme May: Obsessão Assassina é considerado um clássico cult, e pode ser assistido no Amazon Prime Video.