O cinema é capaz de tudo: causar alegrias e conquistas dignas de serem celebradas para sempre e, na mesma medida, criar grandes injustiças pelas quais os responsáveis deveriam ser penalizados. Um desses casos é o motivo de Meu Nome é Maria ser um filme tão relevante e necessário para a sétima arte e seu público.
Maria Schneider (Anamaria Vartolomei) é uma jovem que recentemente descobriu sua vocação. Aos 16 anos, ela começa sua carreira de atriz e, misteriosamente, apenas três anos depois, enquanto ainda é considerada desconhecida, é escolhida pelo famoso diretor Bernardo Bertolucci (Giuseppe Maggio) para protagonizar seu novo filme, O Último Tango em Paris, ao lado de ninguém mais, ninguém menos que o ator americano Marlon Brando (Matt Dillon). As filmagens começam e sua performance é louvável, até que uma cena vai longe demais. Mantida no escuro sobre o conteúdo real que seria filmado, sua vida nunca mais é a mesma depois que o filme é lançado e os julgamentos começam.
Jessica Palud é a diretora que finalmente dá a essa história, mulher e personagem um relato verdadeiro e merecido. Com base no livro Tu t’appelais Maria Schneider (Você se Chamava Maria Schneider), escrito pela prima da atriz, Palud criou não só um filme explicativo, que detalhadamente mostra os bastidores do polêmico O Último Tango em Paris, mas que principalmente narra de forma empática e sincera quem era Maria Schneider, os desafios que enfrentou antes da fama, como o abandono e a falta de reconhecimento do pai, os abusos e rompantes da mãe que a expulsou de casa, e, posteriormente, a manipulação a que foi submetida pela indústria cinematográfica.
Ao longo dos anos, infelizmente, a carreira da atriz, e, de certa forma, somente a sua foi marcada de forma extremamente negativa após o lançamento do filme. De acordo com o filme de Jessica Palud e também o livro de Vanessa Schneider, a atriz tentou múltiplas vezes discutir “a cena da manteiga”, responsabilizando tanto o diretor Bertolucci quanto o ator Marlon Brando por agirem sem seu consentimento, mas foi silenciada inúmeras vezes.
O longa promove, enfim, um novo olhar para uma discussão que a cada ano ganha mais força. E, ainda que o cenário esteja longe do ideal, foram movimentos como o proposto por Meu Nome é Maria que resultaram na criação de departamentos especializados para sets de filmagem, como o de Coordenadores de Intimidade. Maria Schneider faleceu em 2011, aos 58 anos, sem que seu caso fosse superado, mas seu legado e sua luta serão inesquecíveis.