Meu Pai

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Anthony Hopkins comove com seu retrato da demência em "Meu Pai"

Meu Pai está longe de ser o primeiro drama a abordar a demência. Só nessa temporada pré-Oscar, nos EUA, foram lançados Supernova e Falling (que tem roteiro, direção e é estrelado por Viggo Mortensen, o Aragorn, de O Senhor dos Anéis) abordando o tema. Mas o longa em questão consegue fazer algo que raramente é retratado nesse tipo de filme: ele mostra a devastação da doença em tempo real, de dentro para fora.

O filme é dirigido por Florian Zeller, adaptando sua aclamada peça de 2012, Le Peré, que já ganhou uma versão para os cinemas em 2016, A Viagem de Meu Pai, lançado por aqui durante o Festival Varilux. No novo longa, Anthony (Anthony Hopkins, de Thor), um homem idoso, recusa toda a ajuda de Anne (Olivia Colman, de The Crown), sua filha, à medida em que envelhece. Ela está se mudando para Paris e precisa garantir os cuidados dele enquanto estiver fora, buscando encontrar alguém para cuidar do pai. Ao tentar entender suas mudanças, Anthony começa a duvidar de seus entes queridos, de sua própria mente e até mesmo da estrutura da realidade.

Zeller extrai performances cheias de nuances do seu par de protagonistas. Hopkins vai afundando nas profundezas de sua mente a cada cena que passa, enquanto Colman vai demonstrando magistralmente o sofrimento que é ver um ente querido definhar perante a doença.

Ao longo do filme somos confrontados com um Anthony que parece ter um prazer inenarrável de combater a filha, quer seja a provocando sobre sua vida amorosa ou rejeitando categoricamente suas tentativas de trazer cuidadoras profissionais para cuidar dele. Ele insiste que todas são ladras mesquinhas e desnecessárias.

Os rostos dessas cuidadoras parecem mudar cada vez mais e não fazem sentido para ele; o mesmo vale para os homens com quem supostamente sua filha se relaciona. E onde está sua outra filha adulta? Quanto menos Anthony tem certeza das coisas, mais desafiador ele tende a ser. Ele tem todos os rompantes que a doença traz. E os olhos de Hopkins registram perfeitamente os fios se soltando na mente do personagem.

A arte desse filme está na forma como Meu Pai é apresentado para o espectador. Conforme a história vai mudando elipticamente dentro e fora do tempo, as perdas de Anthony passam a ser nossas. No final, porém, o filme se torna uma meditação profundamente comovente sobre a percepção e a realidade, mas também sobre os limites do cuidado familiar – e todas as maneiras pelas quais a doença pode tornar as pessoas que amamos mais irreconhecíveis, até para elas mesmas.

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