Michael Kohlhaas

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Em tempos em que os sentimentos sobre justiça na vida política e em sociedade estão aflorados, a história de Michael Kohlhaas, um romance escrito no começo do século XIX e agora adaptado para os cinemas como Michael Kohlhaas – Justiça e Honra (Michael Kohlhaas, 2013) pelo francês Arnaud des Pallières, vem a calhar. Em que momento um “bom cidadão” passa a ser um assassino e inimigo do sistema vigente?
No século XVI Kohlhaas é um comerciante de cavalos, talvez um dos melhores da região do Cévennes, na França. Querendo apenas ir até uma região vizinha para fazer negócios, ele é interceptado por homens de um barão, uma figura acima de um simples comerciante na época. Coagido a conseguir uma autorização para passar por aquele lugar, ele se vê obrigado a deixar dois excelentes cavalos, mais um servo, até conseguir a tal autorização. Quando retorna, Michael encontra seus animais em péssimo estado e o servo completamente machucado após ser atacado por cães do barão. Kohlhaas não consegue enxergar nada além da necessidade de justiça. Afinal, o que fez ele para esses homens? Qual a necessidade daquela violência implícita e explícita?
Michael Kohlhaas é um homem questionador e isso fica claro no longa francês. Como se passa no século XVI, o confronto entre homem, religião e poder é a base para o questionamento de uma luta por justiça. Em uma cena em que Michael e um servo passam a noite acampados a caminho de casa, ele lendo à luz da fogueira, o servo o questiona se é a Bíblia, ele responde que sim mas que não é em Latim, ou seja, é o começo do Protestantismo. Esse pequeno detalhe desencadeia uma série de fatos que culminarão nas ações de Kohlhass. Um homem que não confia mais na religião vigente que, juntamente com a monarquia, decide como os cidadãos devem se comportar naquele momento. Apesar da confusão de Michael em ser ou não fiel ao seu Deus, ele não consegue aceitar que esse mesmo Deus seja tão injusto através das mãos dos soberanos e talvez uma revolução seja a melhor forma de conseguir justiça.
Apesar da temática pertinente, o roteiro de Michael Kohlhaas – Justiça e Honra se força a ser meramente estético, uma fotografia sempre sombria, bucólica e com uma trilha sonora exagerada e evasiva persuadindo – ou pelo menos tentando – o espectador a ter ímpetos de sentimentos, já que a narrativa não permite grandes confrontos entre o espectador e a história contada. O Michael Kohlhaas do cinema não consegue engatar uma empatia com quem assiste, apesar de sua história de injustiça e divagações que beiram a verdadeiros temas ao estilo do protestante Martinho Lutero. Parece que essa foi a intenção do diretor francês, causar confronto entre a situação de injustiça apresentada, as ações de Kohlhaas e a forma como o sueco Mads Mikkelsen (da série Hannibal) conduz o personagem, de forma aparentemente preguiçosa, argumentativa mas de pouca ação. Michael Kohlhaas – Justiça e Honra é um filme pertinente mas extremamente apático e nada simpático. Talvez valha a pena seguir a indicação do escritor Franz Kafka – que foi profundamente influenciado pelo livro – e ler a obra escrita de Heinrich Von Kleist.

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