Em Nascida Ontem, dirigido por George Cukor, acompanhamos a transformação de Billie Dawn (Judy Holliday), uma jovem ingênua e despreparada para a alta sociedade, moldada pelo ambiente de seu companheiro, o milionário Harry Brock (Broderick Crawford). Em uma tentativa de torná-la mais refinada, Brock contrata o jornalista Paul Verrall (William Holden), mas os ensinamentos de Paul vão muito além de boas maneiras e acabam despertando em Billie uma consciência política e social.
A narrativa se desenrola em Washington, D.C., e utiliza o cenário político da cidade como pano de fundo para discutir questões de poder e ética. O roteiro habilmente equilibra comédia e drama, destacando a dinâmica entre os personagens principais. Harry, com seu comportamento autoritário e ganancioso, contrasta fortemente com Paul, cuja inteligência e princípios são um alívio moral na história.
Judy Holliday brilha como Billie Dawn, entregando uma atuação que mistura vulnerabilidade e humor. Inicialmente caricata em sua ingenuidade, Billie revela uma profundidade surpreendente ao longo do filme. Sua jornada de autodescoberta é o coração de Nascida Ontem, e a química entre Holliday e Holden sustenta o envolvimento emocional do público.
A direção de Cukor enriquece o filme com toques de autenticidade e sutileza. Ele explora as paisagens de Washington com cuidado, integrando os monumentos e a atmosfera da cidade ao arco de crescimento de Billie. A sequência do jogo de cartas entre Billie e Harry, por exemplo, é um destaque visual e narrativo, demonstrando a habilidade de Cukor em criar tensão e humor em uma única cena.
Embora a transição de Billie para uma figura mais consciente seja inspiradora, o filme não evita pequenos tropeços narrativos. O desfecho, que reforça a mensagem de integridade e responsabilidade social, pode parecer um pouco didático, mas não compromete o impacto geral da obra. É um lembrete poderoso da importância de questionar estruturas de poder, especialmente em um cenário político como o de Washington.
Com atuações memoráveis e um equilíbrio habilidoso entre comédia e crítica social, Nascida Ontem permanece um clássico do cinema americano. Mais do que uma comédia romântica, o filme é um convite para refletir sobre os valores que moldam nossas relações e escolhas, provando que até mesmo as lições mais duras podem ser aprendidas com graça e leveza.
