Algumas histórias pessoais precisam se tornar públicas. A história apresentada em Nascida para Você é uma delas, filme baseado nas vidas de Luca Trapanese e de sua filha Alba e de um livro homônimo à película.
Luca (Pierluigi Gigante) é católico, ex-seminarista, fundador de uma instituição para pessoas com deficiência e nutre o desejo de ser pai. Entretanto, as leis italianas não preveem a adoção por pessoas solteiras, apenas o acolhimento por um curto período. Mesmo assim, Luca candidata-se para adoção e não apresenta restrições a questões como deficiências, tendo em vista sua experiência de vida. Durante a avaliação de sua candidatura, o entusiasmo do comitê de adoção acaba quando Luca anuncia para a juíza (Barbora Bobulova) que é solteiro e gay.
Alba é uma bebê com síndrome de Down que foi deixada no hospital após o parto pela mãe biológica, que não queria ou não podia cuidar da criança. Casais heterossexuais não têm interesse na adoção de Alba e a rejeitam, ao contrário de Luca, que enfrenta uma batalha judicial junto com sua advogada Teresa (Teresa Saponangelo) para obter a custódia da menina e torna-se o primeiro homem solteiro da Itália a adotar um recém-nascido.
Apesar da densidade do tema, o filme não apela para sentimentalismo ou uma dramaticidade exagerada. Na verdade, achei a atuação de Pierluigi Gigante contida, conhecemos mais sobre a história e a personalidade de Luca através de flashbacks de sua adolescência, que narram uma forte amizade de infância e a descoberta de sua sexualidade e, também, através de diálogos que mostram mais sobre a sua relação com a fé católica. Enquanto a advogada Teresa, extremamente carismática, pensa na luta da comunidade LGBTQIA+, Luca está focado em realizar seu sonho da paternidade, mas torna-se um ativista, ainda que não fosse sua intenção inicial.
Os créditos apresentam as duas personagens reais que inspiraram essa bela história. Mas o final feliz não aconteceu ainda, a lei italiana ainda exclui a possibilidade de adoção por pessoas solteiras e por casais homoafetivos. A tecnologia evolui, e a humanidade consegue até mesmo enviar sondas especiais para Marte, mas o preconceito e a intolerância fazem com que leis discriminatórias ainda sejam vigentes.