Filmes sobre exorcismos e demônios tendem a ser polêmicos e dividir opiniões entre fiéis e, principalmente, exorcistas.
Mas Nefárious, um “terror cristão” produzido por dois fiéis católicos, Cary Solomon e Chuck Konzelman e que estreia hoje nos cinemas, já virou um fenômeno underground e o hype está grande entre os padres e devotos cristãos que não param de elogiar os aspectos teológicos do filme.
A trama se passa na Penitenciária Estadual de Oklahoma e em torno do assassino em série Edward Brady, que no dia de sua execução tem um último e decisivo compromisso: uma consulta final com um psiquiatra, atestando que ele de fato cometeu seus crimes sabendo o que fazia e, assim, não pode ter sua sanidade questionada. Porém, depois do suicídio de seu antigo médico, Edward deverá ser avaliado pelo Dr. James Martin, outro psiquiatra. Com o destino e a vida do assassino em suas mãos, Martin não tem ideia do que terá que enfrentar.
O encontro entre Martin e Edward, entretanto, leva o filme por um caminho interessante. Edward afirma ser possuído por um demônio chamado Nefariamus, que se autodenomina Nefárious. Essa premissa abre espaço para um intrigante jogo de debates e confrontos psicológicos, entre crença e descrença. Edward, ou Nefárious, desafia Martin, um psiquiatra ateu, com argumentos teológicos e filosóficos que o colocam em uma situação desconfortável. Essa batalha de ideias transcende o conceito de bem e mal, entrando em um território metafísico e existencial.
A produção de baixíssimo orçamento é tão simples que chega a ser precária. É basicamente uma peça de teatro, um diálogo entre o demônio que se apossou do assassino e o psiquiatra. Embora Nefárious seja categorizado como um filme de terror, a verdadeira natureza da obra vai além desse rótulo. Com exceção de algumas cenas suaves de aspecto sobrenatural, o filme não possui o típico gore associado a esse gênero. A narrativa é centrada em um debate complexo, em vez de se apoiar em elementos extravagantes. A única cena de terror do filme é quando uma lâmpada explode para o diabo mostrar seu poder e no final, quando o “djanho” volta a se apresentar ao psiquiatra.
Em suma, Nefárious não é um filme ideal para os fãs de horror convencional e muitos podem achá-lo tedioso ou até mesmo tendencioso. No entanto, aqueles que estão abertos a explorações teológicas e estão dispostos a mergulhar em debates profundos sobre fé, existência e moralidade com temas como ação demoníaca na mente, controle através da razão, pena de morte, lei natural, aborto e eutanásia revelando o modus operandi da ação do mal na humanidade encontrarão em Nefárious um filme cativante onde o demônio conta para o psiquiatra todos os seus planos malignos para acabar com a humanidade, apesar de o clímax ser ruim e previsível.
Para os mais curiosos sobre o assunto, essa temática já foi tratada em um livro de 1976 chamado The Demon (O Demônio), de Hubert Selby Jr e ainda sem tradução para português.