O Aviador

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“O Aviador”: Altos e baixos de um visionário

O Aviador, dirigido por Martin Scorsese, é uma cinebiografia ambiciosa que explora cerca de duas décadas na vida do magnata Howard Hughes. De seus dias como cineasta à obsessão pela aviação e seus crescentes desafios psicológicos, o filme traça o perfil de um homem que viveu entre a genialidade e a loucura. Com um elenco de peso liderado por Leonardo DiCaprio e Cate Blanchett, o longa impressiona em certos momentos, mas luta para manter seu ritmo ao longo de quase três horas.

A narrativa é rica em detalhes históricos e apresenta Hughes como um empresário ousado e obstinado. O filme destaca sua paixão pelo cinema com a produção de Anjos do Inferno e seu amor pela aviação, culminando no voo do gigantesco Spruce Goose. Contudo, ao dividir a atenção entre suas contribuições revolucionárias e suas complexidades pessoais, O Aviador adota uma estrutura episódica que, embora informativa, pode parecer fragmentada.

Leonardo DiCaprio entrega uma performance intensa como Hughes, capturando tanto seu brilhantismo quanto suas batalhas com o transtorno obsessivo-compulsivo. No entanto, há momentos em que sua atuação soa exagerada, especialmente em cenas que retratam os episódios mais extremos do personagem. É inevitável comparar sua interpretação com a abordagem mais contida de Russell Crowe em Uma Mente Brilhante, o que torna algumas escolhas de DiCaprio menos eficazes.

Cate Blanchett, por outro lado, brilha como Katharine Hepburn, roubando a cena sempre que aparece. Sua performance, repleta de carisma e energia, injeta vitalidade no filme, especialmente durante a primeira hora. No entanto, a saída de sua personagem deixa um vazio que não é totalmente preenchido pelas outras figuras femininas, como Ava Gardner, interpretada por Kate Beckinsale, cuja atuação pouco marcante é uma das fraquezas do elenco.

A direção de Scorsese mantém um olhar clínico sobre Hughes, equilibrando conquistas e falhas sem glorificá-lo ou condená-lo. Essa imparcialidade é bem-vinda, mas também contribui para uma sensação de distanciamento emocional. Além disso, o filme investe muito tempo nas lutas de Hughes contra suas próprias compulsões, com algumas sequências prolongadas que comprometem o ritmo.

Visualmente, O Aviador é um espetáculo. A recriação da Hollywood dos anos 1930 e 1940 é deslumbrante, com figurinos e cenários que transportam o espectador para outra era. As cenas de voo, especialmente o acidente do XF-11, são tecnicamente impecáveis e trazem um dos momentos mais memoráveis da produção. No entanto, o longa peca por se arrastar em sua segunda metade, com subtramas que poderiam ser mais enxutas ou até mesmo eliminadas.

Embora não alcance a excelência dos grandes clássicos de Scorsese, como Os Bons Companheiros ou Touro Indomável, O Aviador é uma obra sólida e, em muitos aspectos, fascinante. Para quem tem interesse na figura de Hughes ou na era dourada de Hollywood, o filme oferece uma experiência rica, ainda que imperfeita. Já para o público geral, sua longa duração e ritmo irregular podem ser obstáculos, tornando-o uma peça mais admirada do que amada.

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