Exatamente como um pedido de atenção, um grito. Assim se constrói o documentário O Bixiga é Nosso!, em tese um bairro muito famoso da cidade de São Paulo, que para quem está mais distante do sudoste do país seja famoso por sua culinária italiana, porém para quem se localiza mais próximo da maior cidade do Brasil, o bairro é de cultura e misturas pulsantes, e com essa força pede socorro e luta para manter sua memória.
Assim como em qualquer parte do Brasil, quando se aprofunda a história de uma região obviamente a sua construção é feita por conta de povos escravizados e com o tempo de maneira falsa libertados, amplamente explorados e invisibilizados de qualquer paradigma, inclusive da sua cultura e história. E é a partir desse ponto que observamos a luta da comunidade em preservar sua memória.
O documentário tem o fio principal na construção de uma nova linha do metrô que passa na região. Tal obra desapropriou a Escola de Samba Vai-Vai de suas instalações, e consequentemente do Sítio Arqueológico do Quilombo Saracura, onde a escola tinha sido construída pelo próprio fato da história do quilombo se fundir com a escola. Seguindo linha adiante é contada a história de uma disputa de área no terreno onde está localizado o famoso Teatro Oficina Uzyna e o grupo Silvio Santos.
O Bixiga é Nosso! é extremamente informativo, e traz depoimentos carregados de coragem e resistência, principalmente reunindo pessoas de variados movimentos sociais e mostrando que é possível se estabelecer uma luta coletiva para mostrar a identidade local e principalmente a fusão de várias culturas em um único espaço geográfico.
O que é mais interessante na história contada é que realmente a união e a resistência fazem a força e que não é de hoje que o Bixiga briga para manter e preservar sua história.
Um documentário com “D” maiuscula, que realmente entende que uma boa argumentação e uma excelente direção deve ser feita quando se tem um tema tão importante, imagens muito bem definidas, tomadas bem feitas e depoimentos muito bem dirigidos, que no final independente de qualquer viés é impossível não se entender a causa, mas não porque é impositivo, mas sim porque é extremamente rico e informativo.
Realmente O Bixiga é Nosso!, sem gentrificar, sem expecular imobiliarimente, sem gourmetizar, sem apagar nossa cultura brasileitra tão diversa e principalmente respeitando a mémória do povo negro, onde falhamos tanto em contar e preservar.