Em O Voo do Anjo, dirigido e roteirizado por Alberto Araújo, o espectador se depara com um recorte especialmente direcionado a um momento de reflexão, e tem a oportunidade de parar para pensar de forma sincera e real sobre acontecimentos que fazem parte da vida.
Vitor Almeida Falcão (Othon Bastos) é um professor de Física aposentado que mora com o único filho, Renan (Gustavo Duque), em um apartamento luxuoso em Goiás. Na noite de seu aniversário, Arthur (Emílio Orciollo Neto), é o motoboy que faz a entrega de seu jantar, ao qual o filho não conseguiu comparecer. Arthur entra, faz sua entrega e assim que Vítor vira as costas, o homem está prestes a se jogar de uma das janelas do apartamento. É nesse instante, em que um deles celebra a vida e o outro flerta inconsequentemente com a morte, que uma amizade poderosa surge entre os dois.
Este é um filme extremamente poético, que constrói sua narrativa com pedaços da literatura de várias disciplinas diferentes, em um momento é um trecho de Augusto dos Anjos, em outro falas e ensinamentos de filósofos e físicos clássicos. Tudo muito bem combinado para tratar de temas hiper sensíveis, como acidentes que custam a vida, suicídio, morte de entes queridos, de uma forma absolutamente cuidadosa, ainda que verdadeira e necessária. Sendo que o destaque vai para a importância das relações, sejam as de amor ou de amizade, e o apoio imprescindível que elas representam no resgate de quem sofre.
Essa forma como a trama foi construída, ou melhor, o roteiro em si, apesar de ser interessante e convidativo, nesta caso curiosamente acabou por dispensar o uso das imagens. É estranho pensar assim, mas O Voo do Anjo é essencialmente um longa que pode ser apenas ouvido, e não necessariamente assistido.
Importante notar que essa não é uma questão de performance, tanto os atores principais quanto o restante do elenco entregam personagem queridos, com quem o público facilmente se relaciona e até se identifica, mas não há nada além que justifique o estouro da pipoca.