Oroboro

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"Oroboro": A arte como transformação em "Oroboro"

No documentário Oroboro, Pablo Lobato nos leva aos bastidores de um projeto pedagógico singular, onde o teatro se entrelaça à formação de jovens estudantes. Acompanhando duas turmas de uma escola em Minas Gerais, o filme revela como a encenação de Grande Sertão: Veredas e A Flauta Mágica se torna um espelho das inquietações e descobertas da adolescência. A proposta não se limita a registrar ensaios e apresentações, mas mergulha na experiência sensível desses alunos, explorando a arte como ferramenta de transformação.

O longa evita uma abordagem tradicional de documentário expositivo. Em vez de entrevistas explicativas ou uma narrativa linear, Oroboro aposta na observação do cotidiano escolar, nas interações entre alunos e na fluidez do processo criativo. O resultado é uma obra que capta momentos espontâneos de dúvida, frustração e êxtase, respeitando o ritmo próprio das descobertas juvenis. A câmera acompanha de perto as expressões e gestos, permitindo que o espectador se conecte com a experiência dos estudantes sem a necessidade de uma condução explícita.

Além de retratar o impacto da arte na vida dos jovens, o filme também se insere em um contexto maior, refletindo sobre os desafios da educação em um mundo em constante transformação. A escola, localizada entre Belo Horizonte e Nova Lima, encontra-se numa região onde o crescimento urbano avança sobre áreas naturais, criando um cenário que simboliza os contrastes entre tradição e modernidade. Essa ambientação contribui para a sensação de que a formação desses adolescentes acontece não apenas dentro da sala de aula, mas também no embate com a realidade ao seu redor.

A montagem de Oroboro reforça sua proposta poética, construindo um fluxo que transita entre os dois espetáculos sem perder a organicidade. O entrelaçamento das adaptações de Guimarães Rosa e Mozart ressalta os temas universais que unem as histórias — destino, escolhas, amadurecimento — e como eles dialogam com a jornada dos próprios estudantes. Há um cuidado especial na forma como as cenas se conectam, criando um ciclo contínuo de aprendizado e renovação, como sugere o próprio título do filme, inspirado no símbolo da serpente que morde a própria cauda.

Outro aspecto marcante é a maneira como a direção confia no espectador para preencher as lacunas narrativas. Lobato não entrega respostas prontas, mas constrói uma experiência imersiva, na qual o público se torna cúmplice do processo artístico vivido pelos estudantes. A ausência de explicações formais reforça a ideia de que o aprendizado acontece na prática, na experimentação e no compartilhamento coletivo.

No fim, Oroboro é mais do que um registro documental sobre teatro na escola — é uma reflexão profunda sobre o impacto da arte na formação humana. Com um olhar atento às sutilezas do processo criativo, Pablo Lobato constrói um filme que ressoa não apenas pela beleza das imagens, mas pelo sentimento de transformação que transmite.

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