Pablo Larraín retorna ao universo das figuras femininas icônicas com Maria Callas, explorando os últimos dias da soprano que dá título ao longa, vivida por Angelina Jolie. O filme capta uma artista em declínio, mas ainda profundamente cativante, presa entre a solidão e o peso de sua própria lenda. Ambientado na Paris dos anos 1970, o longa transforma a melancolia de Callas em um espetáculo de opulência visual e emocional.
Angelina Jolie é a peça central desse retrato. Mais do que interpretar Callas, ela encarna sua essência, movendo-se pela tela como uma pintura viva. Seus gestos, por vezes rígidos, carregam a dignidade de uma artista que ainda exige reverência, mesmo em sua reclusão. Jolie, que treinou canto para o papel, não apenas interpreta músicas; ela entrega performances que mesclam sua voz à da própria Callas, criando um efeito quase fantasmagórico.
Assim como em Jackie e Spencer, Larraín está mais interessado no simbolismo do que na biografia. Aqui, Callas não é apenas a maior soprano de seu tempo, mas um ícone que reflete sobre sua própria mortalidade e relevância. A Paris de Maria Callas é um cenário burguês de cafés elegantes e ruas melancólicas, um contraponto perfeito à exuberância da diva. A direção de arte e o figurino transportam o público para uma era de glamour que já começa a desbotar.
O roteiro, escrito por Steven Knight, adota um tom contemplativo, equilibrando momentos de grandiosidade com diálogos que capturam a fragilidade da protagonista. A interação de Callas com figuras como sua irmã e Aristóteles Onassis é reveladora, mas o verdadeiro foco é sua relação com sua própria história. Há uma ironia amarga em uma artista que, mesmo retirada dos palcos, ainda deseja ser adorada como uma deusa.
No entanto, Maria Callas não está livre de críticas. O filme, em sua reverência pela figura de Callas, às vezes se perde em sua própria grandiloquência, correndo o risco de se tornar tão intocável quanto sua protagonista. Em comparação com o tratamento mais ousado de Spencer, este parece mais contido, menos interessado em desconstruir o mito e mais em celebrá-lo.
Ainda assim, a combinação de performance, direção e atmosfera é poderosa o suficiente para conquistar o espectador. O filme transborda a tragédia típica da ópera, ampliando pequenos momentos em grandes declarações emocionais. É um retrato de uma mulher que não consegue escapar do peso de sua própria lenda, mas que encontra uma espécie de redenção ao abraçá-la.
Ao final, Maria Callas nos deixa com um eco duradouro, como uma ária que permanece ressoando muito depois de seu término. É uma celebração de Callas, mas também de Jolie, e de como ambas, cada uma à sua maneira, transformaram suas vidas com performances inesquecíveis.