Com ritmo ágil, personagens carismáticos e uma estética marcante, Os Caras Malvados é um daqueles filmes infantis que encontram eco também entre os adultos. Inspirado nos livros de Aaron Blabey, o longa da DreamWorks brinca com convenções dos filmes de assalto, mergulha em referências pop e constrói uma narrativa que questiona estereótipos e rótulos — tudo isso com bastante humor e um visual estiloso.
Logo de início, a referência a Pulp Fiction: Tempo de Violência deixa claro que este não é um desenho convencional. A sequência que abre Os Caras Malvados emula a famosa cena do café do clássico de Tarantino, só que com animais antropomorfizados: Sr. Lobo e Sr. Cobra conversam casualmente antes de um roubo, com direito a uma trilha pulsante e enquadramentos ousados. O filme não se contenta em apenas divertir as crianças — ele se diverte também com a linguagem do cinema.

Com uma dublagem original que reúne Sam Rockwell, Awkwafina e Craig Robinson, entre outros talentos, o filme funciona também como uma paródia de Onze Homens e um Segredo, apresentando uma série de golpes mirabolantes, perseguições e reviravoltas. Mas há também um coração batendo no centro da trama: o dilema moral do Sr. Lobo, que começa a flertar com a ideia de se tornar alguém “do bem”, ainda que por conveniência.
Esse conflito dá espaço para que o filme explore temas mais profundos, como o preconceito baseado na aparência e a possibilidade de mudança. O lema “quando você faz o bem, é amado” é repetido como um mantra e não soa forçado, especialmente quando ilustrado por uma sequência eletrizante ao som de “Go”, dos Chemical Brothers, que combina perfeitamente com a estética estilizada — que remete ao universo de Homem-Aranha no Aranhaverso.
O visual é, aliás, um dos grandes trunfos de Os Caras Malvados. Com texturas que misturam 2D e 3D, cores vibrantes e cortes rápidos, o longa se destaca no catálogo recente da DreamWorks. Há um esforço nítido em diferenciar sua linguagem visual da estética mais “fofinha” tradicional da animação americana, e isso confere uma personalidade muito bem-vinda ao filme.

Também é refrescante ver uma animação que não se apoia exclusivamente em piadas infantis ou mascotes engraçadinhos. Claro, há espaço para risadas bobas e personagens caricatos (como o hilário Sr. Tubarão), mas o roteiro não subestima sua audiência. Ao contrário, propõe uma jornada de autodescoberta e redenção que pode ser compreendida por crianças e ressoar com adultos.
No fim, Os Caras Malvados se revela uma grata surpresa: uma comédia de ação animada que entende de cinema, brinca com suas referências e ainda entrega uma mensagem significativa. É um filme que pede continuação — e se depender da química entre os personagens, dos diálogos afiados e da energia pulsante da narrativa, torcemos para que essa turma de ex-vilões volte às telas com novos golpes, ou quem sabe, novas missões heróicas.




