Às vezes o cinema brasileiro surpreende com histórias inesperadas e o que a gente pode aguardar de Um Homem Só, é justamente isso, uma trama ainda desconhecida do entendimento popular mas com grandes possibilidades criativas que trouxeram grandeza ao filme. Arnaldo (Vladimir Brichta) é um homem cansado de sua vida, que já não se inspira e nem se motiva com nada se vê pressionado constantemente e vive num estado amortecido. Ele é casado com Sônia (Ingrid Guimarães), que está tentando engravidar e que mesmo não achando sua relação perfeita, ainda insiste nessa evolução. Quando essa trama é apresentada, é possível lembrar um pouco de O Procurado, com James McAvoy e Angelina Jolie e também de A Entrega com Tom Hardy e Noomi Rapace.
O filme flerta com a depressão e com a crise existencial mais a fundo, quando surge uma possibilidade de Arnaldo se copiar e deixar que a sósia tome conta de sua vida, enquanto ele desiste de tudo e segue outro rumo. Claro que nessa verticalidade do roteiro, as soluções não poderiam ser tão simples quando essas vidas se confundem. Mesmo parecendo maluca a ideia de uma espécie de clonagem física e mental, implantando memórias no novo corpo, o filme brinca com isso, deixando muita filosofia no ar. Afinal, será que não é mais um daqueles rumores que a gente ouve de um primo do amigo do vizinho, ou coisa do tipo? De qualquer forma, a dualidade do personagem de Brichta foi muito bem explorada junto com seus contextos, seja do ambiente de trabalho ou dos problemas de vizinhança, todos esses detalhes ajudaram a construir nossa empatia e nos despreparar totalmente para o ponto de amarração da história.
Um Homem Só, flerta diretamente com a morte e a possibilidade de fuga a partir da entrada de Jôse (Mariana Ximenes) no longa. Sua personagem simboliza o alívio e a naturalidade de uma paixão intensa que Arnaldo nunca viveu, aliás nem ela. Lidando com questões de perda ao redor de um cemitério de animais, a relação do novo casal floresce para gerar os maiores sentimentos emotivos do filme. Com uma direção impecável de Cláudia Jouvin, que trouxe um olhar novo para a estética e para o desenvolvimento do filme, é possível perceber uma delicadeza na melancolia e coesão no que está sendo mostrado. No todo, Um Homem Só, são muitos e somos todos, mas como a gente pode mudar uma vida descontente sendo nós mesmos? Quando a personalidade se desmembra é quando o filme acerta em cheio no questionamento, na técnica e em um elenco perfeito.
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