A reputação de Clint Eastwood em Hollywood foi construída com dois papéis: O pistoleiro sem nome, que estrelou três dos “faroestes espaguetes” de Sergio Leone (Por um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito) e Harry Callahan, que fez cinco aparições durante as décadas de 1970 e 1980.
Os Imperdoáveis foi visto como uma reação de Eastwood ao personagem de Dirty Harry. Para alguns, Harry era a personificação da violência sem consequências, de uma mentalidade de atirar primeiro e perguntar depois. Os Imperdoáveis, no entanto, aborda os tiroteios e a morte de um ponto de vista diferente, ilustrando que existem consequências reais e permanentes para a violência – consequências que ficam gravadas na mente e na alma.
Quando Eastwood começou a produção, ele já estava estabelecido como diretor e ator. Ele era conhecido por assumir riscos atrás das câmeras, tendo feito Bird e Coração de Caçador. Tentar encontrar um padrão em suas escolhas é impossível. Na verdade, poucos atores/diretores tiveram uma carreira mais versátil do que Eastwood. Mesmo Woody Allen, que rivaliza com Eastwood por também aparecer em seus próprios filmes, não possui um currículo tão impressionante e diverso.
O filme é um faroeste feito em uma época em que a popularidade deles definhava. Ironicamente, foi o segundo faroeste a ganhar o Oscar de Melhor Filme em três anos. Dança com Lobos foi o outro, em 1991. Tanto Os Imperdoáveis quanto Dança com Lobos, embora sejam filmes totalmente diferentes, compartilham uma qualidade comum: se diferenciam totalmente dos faroestes das antigas.
Os Imperdoáveis parece mais um faroeste. Tem muitas das convenções de um filme do gênero. Mas não pode ser taxado totalmente como um. A violência é brutal, o xerife não é o mocinho e a história está cheia de ambiguidade. Isso não quer dizer que todos os faroestes feitos nas décadas de 1940, 1950 e 1960 fossem simplistas, mas a maioria não evidenciava a complexidade ética que Eastwood abraça aqui.
Apesar de sua natureza sombria, há humor em alguns momentos da produção. Alguns são mais audazes que outros. Momentos como estes evitam que Os Imperdoáveis se torne muito sombrio. Se representa ou não o melhor trabalho de Eastwood como diretor, permanecerá um ponto de debate. Existem muitos outros filmes em sua filmografia que podem roubar o título. Duas coisas são muito claras, no entanto. Ele contribui para remodelar a maneira como os cinéfilos pensavam sobre o faroeste. E nenhum outro filme de Eastwood fez um trabalho melhor para distanciá-lo de seu alter ego Dirty Harry.